sábado, 17 de junho de 2023

AS BARCAS DE BANHOS DO TEJO

Os verões dos lisboetas...




Segundo registos, no território português, a "vilegiatura balnear marítima" ou temporada de praia, começa a ser praticada a partir do final do século XVIII pela princesa e rainha consorte Carlota Joaquina (1775 - 1830), em Caxias, e alguns anos mais tarde, em 1807, seguindo a tradição, pelo Marquês de Belas e seu sobrinho o 7.º Marquês de Fronteira, em Pedrouços e Algés onde possuía o seu palácio de praia. No entanto, desde meados do século XVIII que, em Inglaterra, se popularizaram os banhos de mar, ou de rio, como tratamento para males de pele, respiratórios, digestivos ou "nervosos". As classes mais abastadas (e arrojadas) foram fazendo o tratamento marítimo junto à costa, isto até ao início do último quartel do século XIX, em que se popularizaram e mais tarde democratizaram "os banhos". Para o comum dos banhistas em Portugal, nomeadamente na cidade de Lisboa, era possível, logo nos primeiros anos do século XIX, usufruir dos banhos de "tratamento marítimo" no rio Tejo, protegido dos olhares indiscretos, no interior das famosas Barcas de Banhos criadas então para o efeito. A este tipo de local para banhos públicos, encontra-se referência à existência, já em 1761, de uma destas Barcas de Banhos, ancorada no rio Sena, junto à Pont-Royal, em Paris explorada pelo senhor Poitevin. Para além dos Bateaux à Bains, como eram designados, com a modalidade do banho quente e frio, são também conhecidos os Bateaux-Lavoirs, lavadouros flutuantes compostos, por regra, de um espaço para lavagem da roupa, ao nível da água, e de outro para secagem, num segundo piso. Eram estes banhos desfrutados nas Barcas de Banhos, considerados terapêuticos em águas correntes do rio Tejo, águas estas que se renovavam sob o influxo das marés. As Barcas de Banhos menores tinham a forma de uma pequena casa de madeira, construídas sobre enormes faluas, para as quais se entrava por meio de um pontão que vinha da embarcação para o cais, onde se vendiam os bilhetes e alugavam os lençóis, fatos de banho e as bóias, porque quem sabia nadar tinha autorização para se banhar fora das gaiolas reservadas aos banhistas, em volta da construção. À ré da embarcação, encontrava-se o "banho geral", onde os utentes se agarravam a uma corda, que um marítimo experiente vigiava, banho este que se pagava com um pataco. Existem referências de que em 1811, eram três as barcas disponíveis junto à Praça do Comércio, nos anos seguintes mais ainda se popularizaram, mercê de diversos tratados de higienistas que louvavam tão são tratamento. Na publicação inglesa "Sketches of Portuguese Life" de 1826, é representado em gravura aguarelada, um pequeno bote catraio de apoio às barcas, munido com toldo ou barraca de banhos que os banhistas lisboetas utilizavam para os seus banhos terapêuticos fluviais no rio Tejo. Serviam igualmente estas pequenas embarcações para quem quisesse tomar banho no meio do rio. As barracas em lona destes pequenos botes tinham a forma de uma caixa paralelepipédica, que se armava à popa do bote e eram constituídas por uma armação de 4 prumos e 4 travessas de madeira, que se revestiam com um toldo de lona, cujas arestas verticais e os bordos inferiores se prendiam com atilhos de nastro ou cordas, de forma a ficar complemente impenetrável à vista o interior da barraca o que garantia uma maior privacidade. Refira-se que é um dos mais antigos registos conhecidos em imagem, deste tipo de embarcação e actividade que nelas se praticava. Em outros registos mais tarde surgem na paisagem ribeirinha estes pequenos botes catraios nomeadamente frente à Praça do Comercio, como num estudo de leque em papel, edição Casa Verissimos Amigos de 1840.


Rainha consorte portuguesa Carlota Joaquina 1775 - 1830
 (col. Museu de Arte de São Paulo)


Banhos de mar e de rio, como tratamento para males de pele, respiratórios, digestivos ou "nervosos"
 muito populares em Inglaterra nos finais do séc. XVIII (arq. pess.)


Pequenos botes catraios no início do séc. XIX que os banhistas lisboetas utilizavam
 para banhos terapêuticos fluviais no rio Tejo
(col. pess.)

Pequeno bote catraio de apoio às Barcas de Banhos em 1826 que os banhistas lisboetas também utilizavam
 para os seus banhos terapêuticos fluviais no rio Tejo in  "Sketches of Portuguese Life" (arq. priv.)


Pequeno bote de banhos no rio Tejo junto à Torre de Belém 
numa pintura a óleo sobre tela de meados do séc. XIX 
(col. pess.)


Bote catraio utilizado para o transporte de banhistas às Barcas de Banhos junto ao cais dos vapores
 na Praça do Comércio em 1840, estudo de leque, edição Casa Verissimos Amigos (arq. BNP)



Não existe uma data ou uma referência concretas de quando este tipo de barca surgiu no rio Tejo, no entanto há notícias de que em 1835 existiam outras Barcas de Banhos com os nomes: "Barca Grande", "Barca dos Tonéis" e "Barca do Hiate". Muito provavelmente terão dado origem às três mais famosas Barcas de Banhos do Tejo. Assim, em 1848 havia três Barcas de Banhos do Tejo famosas, como ficou registado no curioso desenho litográfico colorido para papel de leque editado pela Casa Verissimos Amigos com um aspecto da Praça do Comércio. Essas 3 barcas, consta que se chamavam "Flor do Tejo", "Diligência" e a mais famosa a "Deusa dos Mares". Mal se entrava no Verão encontravam-se atracadas no rio as célebres Barcas de Banhos, mais precisamente, no Cais de Santos, na margem do rio Tejo, pouco mais ou menos onde hoje fica a estação ferroviária da Linha de Cascais. Assim que o calor se tornava insuportável em Lisboa, o alfacinha acorria às Barcas de Banhos no Tejo para se refrescar. Efectivamente os lisboetas não eram muito dados a idas à praia, porque os transportes eram caros e escassos e quanto muito ia-se até Belém, Pedrouços ou Algés apanhar o ar marítimo e dar passeios à beira rio. Equivaleriam hoje as Barcas de Banhos às nossas actuais praias. Os banhos de mar tomavam-se apenas como tratamento prescrito pelos médicos e era na zona da Fundição ou na Praia de Santos que de manhã se ia mergulhar na lama ou na água suja de toda a imundície que naqueles locais eram despejadas. Também mais a norte do rio Tejo, por entre quintas e terrenos de cultivo, existiam as praias de Xabregas com extensos areais, como a da "Marabana", que tinham o seu público habitual. Com as epidemias que assolaram Portugal, nomeadamente a cidade de Lisboa em 1856, a cholera morbus em 1857 e o outro flagelo, que se tornou ainda mais devastador, a febre-amarela, este negócio das Barcas de Banhos sofreu uma quebra mas por outro lado era a solução para evitar os locais imundos da beira rio para banhos e ter alguma higiene. Assim, para além das barcas já existentes, as famosas barcas com os pomposos nomes de  "Deusa dos Mares" e "Flor do Tejo", apareceram mais tarde, as "Flor da Praia" e "Flor de Lisboa", entre outras. Como essas barcas estavam amarradas à terra, ou ancoradas muito próximo, as águas eram iguais e ainda por cima o banho tomava-se dentro de verdadeiras gaiolas; mas, por muito tempo, foi moda "ir às barcas" que além do mais serviam para o cultivo do namoro e de encontros furtivos combinados ou não. Três dessas barcas, encontravam-se atracadas perto uma das outras, sendo a primeira, a contar do Cais de Sodré para a Praça do Comércio, a "Lisbonense", pintada de negro com vivos brancos; seguindo-se a "Vinte e Quatro de Julho" pintada de azul e a terceira, a "Feliz Destino", toda de verde. A primeira era frequentada por gente do povo, a outra pelos remediados e a terceira pelos de mais posses. As empresas que exploravam estas Barcas de Banhos tinham ao seu serviço pequenos botes catraios, munidos com um toldo ou uma barraca de lona, que iam buscar e levar os respectivos fregueses ao embarcadouro da Praça do Comércio, junto às escadas do cais do canto sudeste da então estação dos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste. Num registo de 1870, por T. W. Langton é possível ver uma dessas barcas frente ao Terreiro do Paço. Igualmente junto ao Cais das Colunas e no Cais do Sodré, concentravam-se os estabelecimentos de exploração destas Barcas de Banho com funcionários, barqueiros, figuras que também elas se tornaram típicas de Lisboa, que animavam a vida ribeirinha com os seus pregões:

"Quem quer tomar banho? 

Quem se quer refrescar? 

Quem vai à Barca?"

Em 1865 os preços dos bilhetes dos banhos custavam:

Primeiro banho de proa, $120 réis; Banho de proa, $100; Banho de chuva, $160; Banho reservado, $200; Banho grande, $120; Banho de ré, $080; Banho geral, $060.    



Vista da Praça do Comércio com embarcações e Barcas dos Banhos do Tejo em 1848, 
papel para leque, edição Casa Verissimos Amigos (col. Museu de Lisboa)


As 3 principais Barcas de Banhos do Tejo, consta que se chamavam
 "Flor do Tejo", "Diligência" e a mais famosa a" Deusa do Mar", 
frente à Praça do Comércio em 1848 (arq. pess.)


Aspecto da praia da Rocha do Conde de Óbidos em Santos no séc. XIX, 
onde alguns lisboetas faziam banhos ditos "de mar", 
uma zona ribeirinha insalubre, por Alfredo Keil
(col. priv.)



Embarcações no rio Tejo, incluindo uma Barca de Banhos, frente à Praça do Comércio
 na década de 1860, detalhe de prova em albumina,
 foto Francesco Rocchini, photographo
(arq. BNP)



Barca de Banhos frente à Praça do Comércio em 1870, vendo-se à popa  um bote catraio 
para transporte dos banhistas, por T.W. Langton (col. ppriv.)


Figura de barqueiro típico do Tejo da região de Lisboa em 1846, 
gravura aguarelada e desenho de E. J. Maia (arq. priv.)



                                                    A Barca "Deusa dos Mares"

Esta barca em especial, tem uma história curiosa e digna de menção. Terá pertencido outrora à praça de Lisboa e fazia a carreira da Índia debaixo do nome "Maia Cardoso". Mais tarde, foi armada em vaso de guerra, e por esse motivo mudou de feição e de nome. Passou a chamar-se "Trovoada" e assistiu impassível, no alto mar, à desencadeada luta dos elementos, pois era feita de madeira de teca e da melhor construção, prestando serviços à armada e ganhando mais um título à estima pública. Seguiram-se os anos e o vaso de guerra voltou ao Tejo. Cansado já da glória, e depois de se ter tornado útil ao comércio e à marinha, foi vendida por três contos a Vicente Grimar, desarmou-se dos apetrechos bélicos, e ataviou-se elegantemente como Barca de Banhos denominada, com um nome pomposo "Deusa dos Mares". Era muito bem conceituada, porque teve diversos melhoramentos, a ponto da barca chegar a conter 31 banhos a estibordo e bombordo, sendo estes divididos em banhos diferentes, como por exemplo: 4 banhos de chuva, 2 reservados e 3 grandes, tendo a facilidade de reunir 3 banhos num só, quando se dava o caso da família ser numerosa. Como se todos estes atractivos não fossem bastantes, tinha mais 2 magníficos banhos gerais com o comprimento de 102 pés ingleses, e a conveniência de servir um dos banhos de escola de natação, descobrindo-se metade, e tornando-se por tanto muito mais claro do que os outros. Davam-se, também  banhos quentes em tinas e igualmente mornos de chuva. O que sobretudo demonstrava claramente a excelência desta barca era o estar colocada na corrente da água e os banhos de proa serem "tão fortes e cristalinos como o das praias". A bordo, ainda havia um "bufete", onde os banhistas encontravam sempre um bom serviço e preços acessíveis. Havia sempre à disposição dos frequentadores da "Deusa dos Mares" 3 botes no cais do Terreiro do Paço e 2 no Cais do Sodré. Esta barca media da proa à popa 156 pés ingleses e 61 de boca, sendo por conseguinte a maior embarcação, ao seu tempo. Sensivelmente entre o ano de 1872 e o de 1874 as condições da água do rio devem-se ter alterado, assim como as instalações da barca devem ter-se deteriorado, talvez por falta de manutenção, assunto esse que foi remediado dando origem a um curioso anúncio publicado no Diário Ilustrado de agosto de 1874, que diz o seguinte: 

"Esta barca acha-se fundeada defronte do Arsenal da Marinha, no local, onde a corrente da água é puríssima, mesmo na baixa-mar, por estar convenientemente afastada da canalização dos despejos da cidade. Depois dos melhoramentos que a empresa, como costuma, realizou este ano, foi a Barca vistoriada pelos peritos do Arsenal da Marinha, em virtude do que o Ilm.º e Exm.º Sr. Capitão do Porto deu o seguinte despacho ao requerimentos que nessa ocasião se fez. Tendo-se passado vistoria e sendo esta de parecer que a barca se acha em boas condições, para o serviço a que é destinada, concedo a licença pedida para vir para a sua amarração. - Departamento do Centro, 26 de Julho de 1874." 

A publicação deste despacho garantiu a solidez das obras realizadas e desvanece quaisquer dúvidas, que por ventura houvessem a tal respeito. A boa ordem, asseio e comodidade são rigorosamente observados, como convêm em estabelecimento de tal ordem. O banho geral para homens corre em volta da popa da barca e mede 102 pés, sendo por tal motivo apropriado para o exercício de natação, sem que haja perigo. A bordo alugam-se roupas, assim como se ministram banhos mornos. 


Considerada a Barca de Banhos do Tejo mais famosa, melhor apetrechada e bem frequentada (arq. pess.)


Anuncio à Barca de Banhos "Deusa dos Mares", 
publicado no Diario Illustrado de 24-07-1872
(arq. BNP)


Aspecto de Lisboa na década em 1870, vendo-se no Tejo diversos tipos de embarcações 
incluindo a barca "Deusa dos Mares", foto J. Laurent (arq. Ruiz Vernacci)


Mas num dos relatos mais detalhados, o do Eng.º e historiador Augusto Vieira da Silva (1869 - 1951), que ainda frequentou estas barcas em 1875, na companhia de sua mãe, descreveu em detalhe e rigor, como eram estas Barcas de Banhos do Tejo: "Tratavam-se de velhos cascos de barcos que se adaptavam a essa nova aplicação. Para esse efeito, ao longo de uma coxia longitudinal de circulação no convés, adaptava-se, a cada um dos costados, de proa à popa, uma estrutura de madeira semelhante a uma longa caixa, com tecto, dividida interiormente por tábuas transversais em celas ou compartimentos, com uma porta para o convés na parede anterior. Constituíam essas celas as barracas, para os banhistas se vestirem e despirem. Os compartimentos alongavam-se para fora do convés do barco, e as suas paredes laterais e as posteriores, que desciam vedadas até ao nível da água, prolongavam-se para baixo deste nível com a forma de gaiolas, com três das suas paredes feitas de grades de sarrafos, e com o fundo de tábuas de soalho, que ficava cerca de 1,30 m abaixo do nível normal da água nos compartimentos. Deste modo, cada barraca podia considerar-se formada por dois compartimentos sobrepostos: um aéreo, com o pavimento ou estrado a nível do convés, no qual os banhistas se preparavam para o banho; outro aquático ou submerso, ou poço onde se tomava banho, limitado pelo gradeamento de sarrafos e pelo costado do barco. Como os barcas estavam fundeadas, a água corrente do rio atravessavam os diversos compartimentos, pelos intervalos das grades de madeira o que proporcionava aos banhistas água corrente, com alguns encontros inesperados com peixes, alforrecas e uma ou outra imundície que vagueava pelo rio."

Em finais do século XIX, também Raphael Bordallo Pinheiro (1846 - 1905), dedicou a sua peculiar ironia às Barcas de Banhos do Tejo, na revista "O António Maria" de 16 de setembro de 1880,  deixando-nos rico relato e picarescos detalhes desta prática terapêutica. 


 
Eng.º e historiador Augusto Vieira da Silva 1869 - 1951 
(arq. priv.)





Sátira alusiva às Barcas de Banhos do Tejo por Raphael Bordallo Pinheiro
in O António Maria de 1880 (arq. Hemeroteca digital CML)



Apesar do uso ainda das Barcas de Banhos, o grande impulso à procura das praias para banhos, deu-se a partir da década de 70 do século XIX. O rei D. Luiz I (1838 - 1889) e a família real portuguesa, começaram a mudar-se com alguma regularidade para a Cidadela de Cascais durante o Verão, o que foi amplamente publicitado na época e levaria muitas famílias a procurar seguir-lhes o exemplo. Passou a ser moda da sociedade lisboeta ir para Cascais na época estival. Até à inauguração do caminho de ferro e das 11 estações entre Pedrouços e Cascais, em 1889, a viagem até a esta Vila só podia ser feita num barco dos Vapores Lisbonenses, dotados com salão de fumo e cadeiras estofadas, ou num carrão que transportava 36 pessoas, em qualquer dos casos, o percurso demorava quatro horas para cada lado.  As já conhecidas praias do Bom Sucesso, da Torre de Belém, Pedrouços, Algés e da Cruz Quebrada, na zona ribeirinha do Tejo, em finais do século XIX princípios do século XX tiveram então o seu grande apogeu. O areal do limite sul do sítio de Pedrouços era o seu grande motivo de fama na 2ª metade do século XIX, já que depois de Belém era a praia dos arrabaldes de Lisboa mais procurada pela aristocracia, pela alta burguesia e até pela intelectualidade da época. A praia de Pedrouços, "formosa estação de banhos", como era conhecida, com as suas famosas barracas de banhos, é considerada a praia precursora das praias do Tejo. Em 1870, esteve na sua quinta em Pedrouços, junto à margem esquerda da ribeira de Algés, o duque de Cadaval, aí usufruindo dos banhos de mar e da mata. As praias de Pedrouços, Belém e Algés passaram a ser consideradas praias mundanas, razão pela qual eram muito concorridas por quem queria ver e ser visto, a praia da Cruz Quebrada era considerada uma das mais discretas.  Existem referências para o ano de 1873 da presença igualmente nesta praia da Viscondessa de Algés, do Conde de Casal Ribeiro, de Fortunato Chamiço (1815 - 1895) e do escritor Eça de Queiroz (184 - 1900), com as suas famílias. 


Rei D. Luiz I 1838 - 1889 (arq. priv.)


Praia da Ribeira em Cascais, usada pela família real portuguesa 
a partir da época do rei D. Luiz I na década de 1870 
(arq. CMC)


As Praias de Banhos em 1884, por Marques de Oliveira, em moda nos finais do séc. XIX (col. priv.)



Com o progresso dos meios de transporte da cidade de Lisboa, nomeadamente os carros americanos da CCFL (Companhia Carris de Ferro de Lisboa) a partir de 1872, a linha de caminho de ferro de Cascais da Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portuguezes em 1889, a possibilidade da deslocação dos banhistas e veraneantes lisboetas para zonas balneares de qualidade, que começam a estar na moda, faz com que vão desaparecendo as Barcas de Banhos. Além de tornarem as viagens cinco vezes mais rápidas, os caminhos-de-ferro estimularam a descoberta das praias, com a criação de "bilhetes de temporada de banhos de mar e águas minerais", válidos por 60 dias entre julho e outubro. Estes bilhetes para a temporada de banhos iriam manter-se até ao século XX, dada a sua grande procura pela população lisboeta. Alguns dos artistas da época representaram nos seus quadros essa nova moda que se estava a instituir aos poucos na sociedade lisboeta de então, durante aqueles períodos do ano, as praias e banhos de mar. Para além das casas de veraneio que começam a proliferar nessas zonas balneares, também surgem os hotéis, junto à praia de banhos de Pedrouços por exemplo, como o Hotel Tejo e o Hotel Club, mesmo junto à estação de caminho de ferro. O habito de fazer praia, foi essencialmente elitista, ligado à aristocracia e à burguesia endinheirada, durante todo o século XIX e até durante o inicio e meio do século XX. Apesar do impacto decisivo do comboio no aumento do número de banhistas, não havia misturas de classes. À medida que a burguesia foi enchendo as praias da Linha de Cascais, a seguir à Torre de Belém e Pedrouços, a aristocracia aproximou-se da família real e concentrou-se em Cascais. Com isto e a par com as Barcas de Banhos que ainda restavam, as praias de banhos, para quem preferia, foram-se sucessivamente deslocando para a foz do rio Tejo e para mais distante. Aos poucos no final do século XIX desaparecem do rio Tejo as Barcas de Banhos e os alfacinhas vão mudando os seus hábitos de verão. Durante muitos anos, estas embarcações adaptadas, as famosas Barcas dos Banhos, acabaram por fazer parte da paisagem e do quotidiano do rio Tejo na região de Lisboa, tal como as restantes embarcações típicas nele existentes. No fim do século XIX, início do século XX, apesar de alguns proprietários de Barcas de Banhos ainda que fizessem questão de as manter activas, assim como os pequenos botes catraios para o transporte dos poucos clientes banhistas, era possível, segundo relatos, ver restos de uma dessas Barcas de Banhos abandonada e a apodrecer no areal na zona da Junqueira. 


Estação de caminhos de ferro do Cais do Sodré e carros americanos em finais do séc. XIX 
que permitem a deslocação de banhistas e veraneantes às praias mais distantes de Lisboa 
(arq. AML)


Bilhete da Companhia Carris de Ferro de Lisboa até Algés
 para a temporada de banhos em finais do séc. XIX
(col. Carlos Caria)


Anuncio alusivo aos banhos de praia e das Barcas de Banhos em Lisboa de 1888,
in Guia-Annunciador do Viajante Luso-Brazileiro (arq. BNP)



Panorâmica do rio Tejo, vista do Cais do Sodré em finais do séc. XIX
 vendo-se ainda a Barca de Banhos "Nova Flor", foto Legado Seixas
(arq. AML)

Praça do Comércio vista do rio, vendo-se ainda um pequenos bote catraio, munido com um toldo
 usado para o transporte de banhistas ás Barcas de Banhos (arq. priv.)


Praia de Pedrouços com as suas famosas barracas de banhos em 1876 (arq. pess.)


Alusão à praia de Pedrouços em 1897, in revista Branco e Negro (arq. Hemeroteca digital CML)


Uma antiga Barca de Banhos do Tejo frente à Praça do Comércio
 em postal ilustrado de meados de 1900 (col pess.)


Restos de uma das Barcas de Banhos abandonada e a apodrecer no areal da Junqueira 
em meados do início do séc. XX (arq. pess.)





Em finais do século XIX inícios de XX, passou a ser frequente ver a família real portuguesa, incluindo o rei D. Carlos I (1863 - 1908), juntamente com a rainha consorte D. Amélia de Orleães (1865 - 1951), reunida durante os verões em Cascais fazendo praia. A moda de ir à praia a Cascais e passar o período estival na região instalou-se definitivamente na alta sociedade lisboeta e até nas classes mais baixas desde então.  Tal como na época das antigas Barcas de Banhos, passa então a ser moda as famílias mais abastadas da capital fazerem época de praia ou ir a banhos, com encontros e confraternizações amigas no período do verão. Para tal alugando ou adquirindo casas e propriedades ou ficando nos hotéis que começam a proliferar nesses locais de veraneio dos arredores de Lisboa ou até mesmo em casas dos banheiros dessas praias que as alugavam nesses períodos de verão. Como curiosidade, as banhistas especialmente, nestas praias de banhos do inicio do século XX, tinham por habito ser sempre ajudadas por banheiros e nunca conseguiam nadar devido ao peso dos seus fatos. Quando saíam da água cobriam-se com uma capa e de imediato corriam para as barraquinhas de madeira ai existentes, para assim mudar de roupa. Os divertimentos nestas parias começam a fazer parte da paisagem, especialmente em Pedrouços, Algés e Paço de Arcos, com os famosos baloiço onde os mais novos se divertiam e confraternizavam. Surgem já em meados do século XX nessas praias lisboetas, os vendedores galegos dos famosos "barquilhos" ou "línguas da sogra", sempre com o seu animado jogo de roleta e mais tarde os vendedores das "bolas de Berlim". No início do século XX, seriam igualmente criados "bilhetes de temporada de banhos" para outras praias da região de Lisboa como a Trafaria, que começa a ser muito procurada para levar crianças, após a criação da Colónia de Férias pela rainha D. Amélia. Apesar do convívio que sempre esteve presente nestes espaços se manter, outros conceitos diferentes dos famosos banhos terapêuticos das outrora Barcas de Banhos do Tejo surgem. Ir à praia durante o século XX e na actualidade, não se prende já com questões terapêuticas ou de saúde mas sim por uma massificação do turismo e a sua expansão internacional assim como as novas concepções de moda sobre o corpo. Tudo isso fez com que se desenvolvesse um modelo e conceito de praia totalmente diferente do anterior, voltado mais para as férias, o sol e o lazer. Algumas das praias em redor de Lisboa continuam a ter fama, sendo procuradas quer por publico nacional quer estrangeiro, para lazer por muitos veraneantes de todas as classes sociais e por desportistas praticantes de desportos aquáticos em especial de surf e windsurf


Membros da família real portuguesa na Praia da Ribeira ou dos Pescadores em Cascais 
durante a época estival em 1900 (arq. CMC)


O rei D. Carlos I tomando banho de mar na Baía de Cascais em finais do séc. XIX (arq. CMC)



Banhistas durante os seus banhos de mar na praia da Ribeira em Cascais em 1900 (arq. CMC)



Ambiente da praia de banhos de Paço d'Arcos com os baloiços e barracas dos banhistas
 no início do séc. XX, in postal ilustrado (col. pess.)



Bilhete da Carreira de Vapores para a Trafaria 
destinado à temporada de banhos 
no início do séc. XX
(col. Carlos Caria)



Banhistas nos seus trajes de banho na praia de Algés no início do séc. XX (arq. priv.)


Alfacinhas vão a banhos à praia de Algés em 1912, foto Joshua Benoliel (arq. AML)



Banhistas na praia de Monte Estoril em meados dos anos 20 do séc. XX, foto Joshua Benoliel (arq. AML)


Banhista na praia de Monte Estoril em 1928, a bailarina russa Natacha, 
foto de Horácio Novais (arq. Biblioteca de Arte FCG)


Praia do Estoril repleta de banhistas no período de verão de 1967 (arq. pess.)



Banhistas na praia do Tamriz no Estoril fazendo praia e apanhando Sol na actualidade (arq. priv.)



Ambiente de verão na praia da Ribeira em Cascais na actualidade (arq. pess.)



Praticante de surf numa praia do Guincho em Cascais na actualidade (arq. priv.)



Praticantes de windsurf na Praia do Guincho na actualidade (arq. priv.)




Neste artigo, tal como nos demais deste blog, agradecem-se e serão sempre de louvar todas as correcções que possam existir, desde que sejam feitas de forma educada e construtiva.
Obrigado e boas leituras.

                              



Texto: 

Paulo Nogueira



Fontes e bibliografia:

 Sketches of Portuguese Life, manners, costume and character, London, Geo. B. Wittaker, 1826

 Diario Illustrado de 24 de julho de 1872

Visconde de Benalcanfor, Diário Illustrado, 31 de julho de 1874

Revista O António Maria de 16 de setembro de 1880

Olisipo: boletim do Grupo "Amigos de Lisboa", A. XIII, n.º 49, janeiro 1949





segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

LUIZA TODI

 A diva do canto lírico português

Meio-soprano de voz rara e inconfundível, segundo registos documentais da época, é considerada a cantora lírica portuguesa mais célebre de todos os tempos. Foi a "prima-dona" da ópera que encantou os grandes palcos da Europa no último quarto do século XVIII. Nascida Luiza Rosa Almeida de Aguiar, a 9 de janeiro de 1753 (há 270 anos), na casa nº 49-51 da Rua de Coina (actual Rua da Brasileira), Bairro do Troino na freguesia de Nossa Senhora da Anunciada, concelho de Setúbal, era filha de um professor de música e instrumentista, que passou a viver em Lisboa a partir de 1765. Em criança, conta-se que se terá salvo do Grande Terramoto de 1755 por se ter escondido dentro de um forno de pão que lhe serviu de protecção. De relembrar que o Bairro do Troino onde Luiza e a família residiam, ficou praticamente arruinado, com derrocadas em praticamente todas as ruas, transformando-se numa cena "mortuária e ensanguentada", segundo registos da época. Entretanto,  Luiza Rosa como passou a ser chamada, começou a sua carreira pelo teatro musical, aos catorze anos, no Teatro do Conde de Soure, na peça "O Tartufo", de Molière. Com a sua irmã mais velha, Cecília Rosa de Aguiar (23 de agosto de 1746 - ?), cantou em óperas cómicas. Seria esta ligação à cultura por via do seu pai que a faria contactar, pela primeira vez, com os palcos, precisamente ao lado do seu pai e de três dos seus irmãos, no Theatro do Bairro Alto, situado no Palácio dos Condes de Soure na Rua da Rosa. Corria o ano de 1763 e tinha Luiza a idade de 10 anos. Inicialmente, no papel de actriz, encarnando personagens de "O Tartufo", a célebre peça do francês Molière (1622 - 1673), numa tradução portuguesa do Capitão Manuel de Sousa, encomendada pelo Conde de Oeiras, Sebastião José de Carvalho e Melo (1699 - 1782). Nessa peça, a sua irmã Cecília Rosa desempenhou o papel de "Jacinta", mulher de "Ambrósio" e Luísa Rosa o de "Faustina", criada de "Lauriana". Viria a participar, entre outras, em peças com tendência à musicalidade e ao cómico, com uma grande propensão para as óperas. Com a vinda a Lisboa de uma companhia italiana de Ópera, Luíza conhece o compositor e primeiro-violinista napolitano da respectiva companhia e seu grande admirador, Francesco Saverio Todi (Nápoles, Santa Ana de Palácio, 1745 - Porto, Santo Ildefonso, 28 de abril de 1803), apaixonaram-se e aos 16 anos, em 1769, casaram. O casal instala-se em Lisboa numa casa na Travessa dos Fieis de Deus, actual freguesia da Misericórdia. Tomou assim Luíza o apelido de seu marido, Saverio Todi, que lhe deu o apelido e a fez aprender canto com o compositor David Perez (1711 - 1778), muito conceituado e mestre de capela da corte portuguesa, compositor italiano, que lhe daria aulas de canto. Aulas essas que poria em prática nesse Teatro do Bairro Alto, onde começou a demonstrar os seus dotes, cruzando os ensinamentos com os que recebia em casa, com o seu marido. Ao marido deveu o aperfeiçoamento e a dimensão internacional que a levariam a todas as cortes da Europa, como cantora lírica. Em 1770, já como Luiza Todi, inicia a sua actividade no canto lírico, ainda naquele teatro, na ópera "II Viaggiatore Ridicolo" de Giuseppe Scolari. Estreou-se em 1771 na corte portuguesa dos futuros D. Maria I (1734 - 1816), e D. Pedro III (1717 - 1786), e cantou no Porto entre 1772 e 1775. Durante esse período em que esteve na cidade do Porto, aí nasceu o seu primeiro filho João Todi em 1772, e, em 1773, a sua primeira filha Ana José Todi. Em 1774 Luiza Todi voltou a Lisboa para cantar no Teatro da Rua dos Condes, integrada numa Companhia de que faziam parte cantoras famosas, como Giovanna Sestini e Anna Zamperini. Luiza Todi partira então no anos seguintes para Guimarães, e em 13 de maio de 1775, na Quinta de Vila Verde, da Freguesia de São Sebastião daquela Cidade, nascia  a sua filha Maria Clara Todi, sendo mãe pela terceira vez, e em 1777, em Aranjuez, Espanha, o seu filho Francisco Xavier Todi. Em 1772, aos dezanove anos, passaria a viver no Porto, cidade onde esteve durante cinco anos e onde continuou a exprimir essa sua voz única. Em junho de 1772, os frequentadores do Teatro do Corpo da Guarda puderam assistir ao seu desempenho em "Demofonte", uma ópera do género sério a que melhor se ajustavam as suas características vocais e a expressão do seu canto. Para trabalhar e apurar os dotes canoros de Luiza terá contribuído o próprio marido e, acima de tudo, outro napolitano, o compositor David Perez, seu mestre dos tempos do Teatro do Bairro Alto e autor da partitura daquele "Demofonte" de 1772. No entanto, o futuro fá-la-ia sair do território português e viajar pela Europa. A última actuação de Luiza Todi em salas públicas do território português ocorreria na cidade do Porto, em 1775.  



Aspecto das muralhas de Setúbal, em mapa do século XVIII (arq. priv.)



Vila de Setúbal onde Luiza Rosa de Aguiar nasceu a 9 de janeiro de 1753, num extracto da panorâmica,
 registo da cidade anterior ao Terramoto de 1755, por Pier Maria Baldi (arq. priv.)


Casa onde terá nascido Luiza Rosa de Aguiar, no ano de 1753 
na Vila de Setúbal na Rua da Brasileira, Bairro do Troino. 
foto de 1953 por Américo Ribeiro (arq. priv.)


A ainda jovem Luiza Rosa de Aguiar numa pintura em miniatura 
de meados do séc. XVIII (col. José de Paiva Soares Deniz)


Um aspecto do maremoto e da destruição ocorrida na cidade de Lisboa 
durante Grande Terramoto de 1755 e atingiu fortemente Setúbal
 (col pess.)


A jovem Luiza Rosa de Aguiar nas aulas de canto no inicio de uma carreira já promissora
(arq. priv.)


Casa onde viveu Luiza e Saveria Todi após o casamento na Travessa dos Fieis de Deus em Lisboa (arq. priv.)


Assinatura de Luiza Rosa de Aguiar Todi a partir de 1769 
após casamento com Francesco Saverio Todi 
(arq. priv.)


Edifício onde funcionou o  Theatro do Bairro Alto, situado no Palácio dos Condes de Soure 
 e onde Luiza Todi se estreou em 1763, foto do início do séc. XX (arq. AML)


Teatro da Rua dos Condes em Lisboa, onde Luiza Todi chegou a actuou em 1774 (arq. pess.)


Alegoria ao compositor napolitano David Perez 1711 - 1778 
(arq. pess.) 


Partitura de Demofonte, David Perez, peça interpretada por Luiza Todi em 1772 (arq. priv.)


Cena da peça Demofonte (arq. pess.)


Perspectiva do  edifício onde se supõe ter sido o Teatro do Corpo da Guarda na cidade do Porto 
onde Luiza Todi actuou em 1772, segundo desenho do Arq. Mário Bonito (arq. pess.)



A sua carreira internacional tem inicio em 1777 e parte para Inglaterra, primeiro ponto de passagem com notoriedade, onde teria uma prestação imaculada e descobridora de horizontes. A estreia de Luiza Todi em Londres ocorreu no King’s Theatre in the Hay-Market em 04 de novembro de 1777, com "Le Due Contesse", ópera com "music by signor Paisello and other Eminent Composers" e libreto de G. Petrosellini. Segundo registos dessa época, estas primeiras interpretações na capital inglesa não tiveram o sucesso esperado. No entanto, voltou a cantar "Le Due Contesse" em 11, 18 e 25 de novembro, 02 e 09 de dezembro e 13 de janeiro de 1778. Além desta ópera, cantou ainda as seguintes no decurso da temporada: Vittorina, de Piccianni; L’Amorre Artigiano, de Gassmann; Il Marchese Villano, La Buona Figliuola, de Picciani; e L’Amore Soldato. Já em França, na sua capital, em outubro de 1778 seria uma das protagonistas dos Concerts Spirituels, realizados no Château des Tuileries, uma série de concertos que a cidade recebia de forma a entreter os seus cidadãos, enquanto os restantes espectáculos estavam fechados. Aliás, seria em França que se fixaria durante algum tempo, continuando a embevecer quem a ouvia, que a considerava a melhor cantora estrangeira de Paris, em conjunto com a alemã Gertrud Elisabeth Mara, com quem também partilhou as honras no palco. Em 1778 está em Paris, onde a 22 de novembro nasceria a sua filha Adelaide Antónia Todi, em Versalhes. Os nomes de Mozart (1799, 80,82 e 83) e de Luíza Todi (Madame Todi, Hotel de Brétagne) surgem amiúde no calendário histórico dos teatros de Paris, sendo de presumir que aí tenham convivido em 1779. No cartaz do Concerts Spirituels desse ano, anuncia-se o programa de 2 de fevereiro, que fecha com uma ária italiana de Guglielmo interpretada por M.me Todi. Em 1780 é aclamada em Turim, no Teatro Régio, tendo assinado um contrato como prima-dona, seria então já considerada pela crítica como uma das melhores vozes de sempre. Nessa cidade veio a nascer o seu filho Leopoldo Rodrigo Ângelo Todi a 24 de novembro de 1782. Brilhou na Áustria, na Alemanha e na Rússia. Veio a Portugal em 1783 para cantar na corte portuguesa. Regressou a Paris, tendo ficado célebre o "duelo" com outra cantora famosa, Gertrud Elisabeth Mara, que dividiu a crítica e o público entre os "todistas" e "maratistas". Diz-se que o espectáculo de despedida de Paris foi um acontecimento nunca visto e não mais repetido. Houve uma loucura colectiva na aquisição dos ingressos, que atingiram preços astronómicos e no final da sua apresentação, com as flores e os presentes recebidos (entre os quais inúmeras jóias), Luiza Todi encheu completamente duas salas. Considerada a meio-soprano portuguesa mais célebre de todos os tempos, Luiza Todi é convidada juntamente com o marido e filhos para a corte de Catarina II da Rússia (1729 - 1796), em São Petersburgo, onde viveram de 1784 a 1788. A sua família (marido e filhos, seis ao todo) acompanhavam-na sempre para onde ela fosse e assim foi quando partiu para a Rússia, em 1784, com 31 anos de idade. Seriam acarinhados em São Petersburgo, cidade que os acolheu e que se deslumbrou com a sua interpretação de uma ópera do compositor Giuseppe Sarti. Aliás, a própria imperatriz Catarina, a Grande, ficaria, de tal modo, impressionada ao ponto de lhe ofertar duas pulseiras feitas com diamantes. Será presenteada com muitas jóias valiosas nas apresentações subsequentes. De referir que naquela época, as jóias eram um meio de pagamento melhor e mais seguro do que o dinheiro e foi nessas peças preciosas que se baseava a fortuna de Luiza Todi. A gratidão do casal seria materializada numa ópera que ambos compuseram e dedicaram à imperatriz, de título "Pollinia", que estrearia com Luiza Todi ao lado do cantor italiano Luigi Marchesi (1754 - 1829), com quem começou a desenvolver uma relação de tensão e até de inveja, da parte dele em relação a ela. Porém, a cantora havia caído nas boas graças da imperatriz, que a apontaria como professora de canto da corte russa e como uma artista merecedora de todo o seu carinho. Contudo ao fim de algum tempo as suas relações com a imperatriz azedaram, porque Luiza considerou que estaria a ser mal remunerada pelos seus serviços na corte e Catarina achava as suas exigências exorbitantes. Em 1787, Luiza Todi e a família deixaram a Rússia sem se despedirem da czarina, partindo para a Prússia, juntando-se desta vez à corte do rei Frederico Guilherme II (1770 - 1840). A cidade de Berlim aplaudiu-a quando ia a caminho da Rússia e, no regresso, Luiza Todi foi convidada por Frederico Guilherme II da Prússia, que lhe deu aposentos no palácio real, carruagem e os seus próprios cozinheiros, sem falar do principesco contrato, tendo ali permanecido de 1787 a 1789. Apesar de ganhar fortunas na Rússia, o marido de Luiza Todi perdia todo o dinheiro ao jogo e não restava outra solução, senão pedir cada vez mais e mais dinheiro à imperatriz Catarina II. Como é natural, Catarina II acabou por pôr termo à situação e Luiza Todi e o seu marido partem rumo à Alemanha e a França. Foi uma fugaz passagem, que a viu regressar a Paris logo no ano seguinte, onde continuou onde havia parado nos Concerts Spirituels, não deixando de cativar quem a assistia. Foi deambulando entre a França e o território alemão, chegando a cantar, na cidade de Bona, para o consagrado compositor Ludwig van Beethoven (1770 - 1827), recebendo convites para saraus privados como convidada de honra.  Regressaria a Itália, em 1790, onde actuaria em Veneza, no seu Teatro San Samuele, ornamentada com acessórios que lhe tinham sido dados pela imperatriz Catarina II. No Verão de 1790, Luiza Todi canta em Veneza Didone Abbandonata, a multidão, que extravasava a sala, não deixou fechar as portas do edifício ficando a ouvi-la, deslumbrada, na rua. A cidade recebê-la-ia durante o período de um ano, que tanto a mimou, mesmo num período em que a cantora sentia problemas de visão e que a colocaram de parte dos palcos durante alguns meses. Foi um ano que, apesar do revés, foi sensacional no assinalar do seu prestígio numa cidade tão relevante no panorama cultural.


A jovem Luiza Todi no início da sua carreira internacional (arq. priv.)


King’s Theatre in the Hay-Market em Londres onde ocorreu a estreia internacional de Luiza Todi 
em  04 de novembro de 1777 (arq. priv.)


Interior do King’s Theatre in the Hay-Market em Londres nos finais do séc. XVIII (arq. pess.)


Château des Tuileries, local onde se realizavam os Concerts Spirituels
em que Luiza Todi participou em 1778 (arq. priv.)


Cartaz alusivo aos Concerts Spirituels de 2 de fevereiro de 1779
 com o nome de Luiza Todi (arq. priv.)



Teatro Régio de Turim onde Luiza Todi em 1780 é aclamada e tendo assinado um contrato
 como prima-dona (col. pess.)


Palco do Teatro Régio de Turim em meados do séc. XVIII 
onde Luiza Todi foi aclamada em 1780 (col. priv.)



Gertrud Elisabeth Mara, com quem Luiza Todi  também partilhou 
as honras no palco em Paris (col. pess.)

A já então consagrada a meio-soprano portuguesa mais célebre de todos os tempos 
diva do canto lírico Luiza Todi (col. pess.)


Catarina II da Rússia 1729 - 1796 por Fedor Rokotov (col.Tretyakov gallery)


Cidade de São Petersburgo que acolheu Luiza Todi e a família de 1784 a 1788 (arq. pess.)


Palácio de Catarina em Tsarskoye Selô em meados do séc. XVIII onde Luiza Todi e a família 
viriam a residir a convite da monarca  (col. Metropolitan Museum of Art)


Frederico Guilherme II da Prússia 1770 - 1840 (arq. pess.)


Representação de sarau musical na corte de Frederico Guilherme II da Prússia
(col. Berlin's Alte Nationalgalerie)


Retrato de Luíza Todi (1789) por Élisabeth Louise Vigée Le Brun 
(col. Museu da Música, Lisboa)


A consagração de Luiza Todi em Viena no ano de 1791 (arq. priv.)


Saraus musicais que contavam com a presença de Luiza Todi como figura principal (col. priv.)


Aspecto da cidade de Veneza em meados do séc. XVIII, por Canaletto (col. priv.)

Palco do Teatro de San Samuele em Veneza em meados do séc. XVIII 
onde Luiza Todi cantou e encantou com a sua presença
(col. priv.)


Diversas cidades alemãs a aplaudiram como Mogúncia, Hanôver e Bona, cantou ainda em Veneza, na República de Veneza, Génova, na República de Génova, Pádua, Bérgamo, no Ducado de Milão, e Turim, no Reino da Sardenha. A voz e presença de Luiza Todi encanta e deslumbra todos que a vão ver e ouvir nos grandes salões e teatros da Europa. Dos grandes países do continente europeu, só faltava deslumbrar em Espanha e foi isso que fez durante quatro anos, entre 1792 e 96, na cidade de Madrid, no seu Teatro de los Caños del Peral. De 1792 a 1796 encantou os madrilenos novamente e será nesse período, em 1793, que vem novamente cantar à corte de Lisboa por ocasião do baptizado de mais uma filha do herdeiro do trono, o futuro D. João VI (1767 - 1826). Cantou na Real Casa Pia, a 14 de maio de 1793, num espectáculo integrado nas festas pelo nascimento da infanta D. Maria Teresa de Bragança (1793 - 1874), para tal a cantora precisou de uma autorização especial para cantar em público, o que era então proibido às mulheres nessa época no reino de Portugal. Participou, ainda em maio desse mesmo ano, num sarau no palácio de Anselmo José da Cruz Sobral. Já no final do século XVIII, em 1799 Luiza Todi terminou a sua carreira internacional em Itália, no Reino de Nápoles, cantando no Teatro di San Carlo. Luiza Todi, que tinha a capacidade invulgar de cantar com a maior perfeição e expressão em francês, inglês, italiano e alemão, é considerada a meio-soprano portuguesa mais célebre de todos os tempos, era uma cantora com um perfil vocal que corresponde ao que hoje chamaríamos um soprano dramático de coloratura. Segundo estudos feitos a partir dos registos das descrições, a sua voz tinha um âmbito muito grande, possuía grande agilidade e os sons graves e médios deviam ter um certo dramatismo. Actualmente esse tipo de voz é rara. No seu Tratado da Melodia, Anton Reicha, considera Luiza Todi como "a cantora de todas as centúrias", por outras palavras considerada "uma cantora para a eternidade". No regresso definitivo a Portugal volta para o Porto e é em 1801, na sua morada na Rua Nova de Almada em Santo Ildefonso que fica viúva.  A 28 de abril de 1803, altura em que se aposenta de vez, tendo usado roupa de luto até ao fim dos seus dias. É também na cidade do Porto que Luiza Todi canta em público pela última vez no então Real Theatro de São João. Viveu naquela cidade, onde viria a perder a sua fortuna, as famosas jóias, no trágico acidente da Ponte das Barcas em 29 de março de 1809, por ocasião da fuga das invasões francesas de Portugal pelos exércitos de Napoleão. Segundo registos, nesse dia, Luiza Todi com as suas duas filhas e uma criada durante a fuga da cidade do Porto para Vila Nova de Gaia, não estavam a conseguir escapar pela Ponte das Barcas, dado o grande número de gente e a confusão instalada, para isso terá alugado uma pequena barca para a fuga, levando com ela alguns dos seus pertences, poucos, nomeadamente uma caixa com toda a sua maior fortuna, as suas preciosas jóias, entre elas as oferecidas pela imperatriz da Rússia anos antes. Durante os tumultos e ataque à Ponte das Barcas, que provocaram a tragédia, a ondulação causada pelos náufragos que se tentavam salvar e todo o caos, fez com que a pequena barca tombasse e todos caíram ao rio já perto da margem, tendo sido salvos a tempo e é a criada que lhe consegue salvar a vida, no entanto a caixa com as suas preciosas jóias desapareceu para sempre no fundo do rio Douro. Segundo registos, a sua criada no momento do acidente estende-lhe um remo do barco, Luiza salva-se. Restam-lhe algumas jóias que ficaram em poder duma filha, entretanto ferida a tiro pelos soldados invasores. Este ferimento não permitiu que continuassem a fuga e assim Luiza, as filhas e a criada resolvem entregar-se aos franceses. Uma vez mais na vida a morte passou-lhe ao lado neste acidente. A família de Luiza Todi foi no entanto presa, mas com a ajuda do General Nicolas Jean de Dieu Soult (1769 - 1851), que a reconheceu como "a cantora da nação", obtiveram protecção. 


A voz e presença de Luiza Todi encanta e deslumbra todos que a vão ver e ouvir 
nos grandes salões e teatros da Europa (arq. priv.)


Teatro de los Caños del Peral em Madrid onde Luiza Todi teve 
uma vez mais grande sucesso de 1792 a 96 (arq. priv.)


Folheto de opera com a interpretação de Luiza Todi 
aquando da sua estadia Madrid entre 1792 e 96 
(arq. priv.)


Folha volante distribuída em Madrid com um soneto dedicado 
a Luiza Todi em 1793
(arq. Biblioteca Municipal de Madrid, colecção Carderera)


Lisboa de finais do séc. XVIII para onde Luiza Todi regressa em 1793 (arq. pess.)


O então infante, futuro rei D.João VI 1767 - 1826 
(col. Museu da Inconfidência)


Alegoria ao nascimento da infanta D. Maria Teresa de Bragança em 14 de maio de 1793 (arq. pess.)



O futuro rei D. João VI assistindo a uma actuação interpretada por Luiza Todi a 14 de maio de 1793, 
num espectáculo das festas do nascimento da infanta Maria Teresa de Bragança 
(arq. priv.)


Ambiente de uma opera como onde Luiza Todi se apresentou a suas majestades 
aquando da vinda a Portugal em 1793 (col. priv.)


Teatro de San Carlo onde Luiza Todi actuou e termina a sua carreira internacional em Itália, 
no Reino de Nápoles no ano de 1799 (arq. priv.)


Palco do Teatro de San Carlo onde Luiza Todi actuou e termina a sua carreira internacional em Itália, 
no ano de 1799 (arq. priv.)

Traje de personagem de ópera muito idêntico aos usados
 por Luiza Todi em algumas das suas actuações 
(arq. pess.)



Vista da cidade do Porto em finais do séc. XVIII onde Luiza Todi regressa, 
gravura de Teodoro Maldonaldo (arq. pess.)



Real Theatro de São João onde Luiza Todi canta em público pela última vez no início do séc. XIX (arq. pess.)

Sala do antigo Real Theatro de São João no Porto, onde Luiza Todi actuou em público
 pela última vez no início do séc. XIX (arq. priv.)



Tragédia da Ponte de Barcas na cidade do Porto ocorrida em 29 de março de 1809 
e onde Luiza Todi e família estavam presentes no momento (col pess.)


Tragédia da Ponte das Barcas em 29 de março de 1809 onde Luiza Todi se viu envolvida 
 uma vez mais na vida a morte passou-lhe ao lado neste acidente (arq. pess.)


General Nicolas Jean de Dieu Soult 1769 - 1851, que a reconheceu Luiza Todi 
como a cantora da nação, obtiveram protecção (arq. pess.)


Após toda esta situação Luiza Todi, com 58 anos, regressa a Lisboa onde de 1811 até ao final da sua vida, consta que, terá vivido com muitas dificuldades económicas e, a partir de 1823 fica completamente cega devido a um problema de saúde que já afectava desde muito nova. As poucas jóias e bens pessoais que lhe sobraram dão-lhe para se instalar numa casa modesta no Bairro Alto e para poder comer. Vem para a capital e dos seus seis filhos alguns morreram, uma das filhas acabou enclausurada no Recolhimento de Rilhafoles destinado a doenças mentais, tais circunstâncias abalaram profundamente a saúde da cantora. Aos 60 anos perde a visão de um dos olhos e, 9 anos depois, ficará totalmente cega. Esquecida pelo público português, tem de vez em quando visitas dos seus amigos estrangeiros, que gostam de a rever. A pouco e pouco, também esses irão desaparecer, vai ficando sozinha, doente com muitas dificuldades, longe do sucesso, dos palcos, dos grandes teatros, salões europeus e da vida faustosa de outros tempos. Como tristemente tem sucedido com grandes nomes da cultura portuguesa, também ela acaba na miséria, desamparada e esquecida. Luiza Todi salvou-se dos perigos que a assolaram em criança e já adulta, no entanto a doença venceu-a por fim, vem a falecer em Lisboa, no 2º andar do nº 2 da Travessa da Estrela (Rua Luísa Todi, desde 1917), onde residia, na freguesia da Encarnação, aos 80 anos de idade, em 1 de outubro de 1833, após ter sido vítima do que hoje se sabe ter sido um acidente vascular cerebral, tendo sido sepultada no cemitério paroquial da Igreja da Encarnação, perto do Chiado. A área do cemitério junto à igreja, ficou anos mais tarde, por baixo das fundações do edifício construído por trás da Igreja, debaixo do número 78 da Rua do Alecrim. Apesar de vários pedidos de entusiastas e descendentes, uma das maiores cantoras líricas portuguesas de todos os tempos jaz,  ao que se consta, sob o pavimento de uma cave obscura (conforme testemunho citado por Mário Moreau do proprietário da chapelaria que aí existiu). Terá declarado o proprietário desse estabelecimento, ter visto, durante umas obras de levantamento do soalho da loja, a pedra tumular de Luiza Todi. A inscrição estava um pouco sumida, mas não tanto que não permitisse ver nitidamente o nome da cantora. Foi ainda o referido comerciante quem conseguiu evitar que um dos operários destruísse a pedra com uma picareta. Na época ainda se esboçou a ideia de recuperar a pedra tumular e de dar à grande artista uma sepultura condigna. Mas, como já seria de esperar, nada se fez nesse sentido. A  vida de Luiza Todi foi cheia de grandes glórias numa época complexa para o sucesso de uma mulher, mas  com o seu encanto e voz conseguiu alcança-lo, tendo sido a primeira e única diva do canto lírico português. Baseados nesses documentos da época, séculos XVIII e XIX, especialistas afirmam que ela revolucionou aquele género de espectáculo dando-lhe a dimensão interpretativa e cénica que, a partir de então, se lhe conhece. Segundo o estudo feito por Mário de Sampayo Ribeiro sobre Luiza Todi, o temperamento artístico da cantora é sublinhado, associando o prodígio do seu canto à capacidade de representar, de tal forma que o cantar da Todi criava um ambiente de êxtase e de encanto tais que o auditório como se não lembrava de aplaudi-la. Só depois de desvanecida essa como que embriaguez, as palmas irrompiam e então, a partir desse momento, a multidão electrizada devinha como possessa e aclamava com delírio a artista privilegiada. Embora não existissem registos de audio na época, ficaram os registos escritos e os relatos documentais, havendo quem considere Luiza Todi a maior cantora de ópera do mundo. Luiza Rosa de Aguiar Todi foi uma setubalense que fez da sua vida uma referência a nível nacional e internacional. A sua cidade natal, Setúbal, nunca a esqueceu, deu o seu nome a uma das principais artérias da cidade, a Avenida Luísa Todi. O nome de Luiza Todi foi atribuído a um teatro na sua terra natal em 1915, teatro este reconstruído e inaugurado o moderno edifício em 1960, mais tarde melhorado e convertido a cine-teatro, denominado actualmente de Forum Luísa Todi. Um monumento, Glorieta a Luísa Todi foi inaugurada por ocasião do centenário da morte da cantora lírica setubalense, a 1 de outubro de 1933, no antigo Parque das Escolas, que posteriormente recebeu o nome da homenageada, tendo sido desenhada pelo arquitecto Abel Pascoal e construída por Abílio Salreu. Integra um busto da autoria do escultor Leopoldo de Almeida. Em 1938, o monumento foi transferido para a actual localização, na Avenida Luísa Todi. Igualmente um grupo coral recebeu o seu nome e até a um estabelecimento hospitalar, entre outros ligados à cultura e ensino. Na casa onde se consta ter nascido Luiza Todi foi mandada colocar uma lápide no ano de 1953, pela Câmara Municipal de Setúbal alusiva ao seu nascimento, o imóvel está classificada de Interesse Municipal desde 2009. Futuramente será a Casa Museu Luísa Todi, Cantora Lírica, com a finalidade de nele instalar um museu, um núcleo documental e um auditório. O  mais importante prémio de canto clássico em Portugal tem o seu nome. É o Concurso Nacional de Canto Luísa Todi. Em 2008, a RTP transmitiu um filme sobre a sua vida na série Figuras Relevantes da Cultura Portuguesa. Desde o início deste século, um grupo de lisboetas pede para que a sua sepultura de Luiza Todi seja transferida para um túmulo no Panteão Nacional, onde os mais importantes portugueses que se destacaram. No entanto, este é um ponto sensível para o município de Setúbal, que acredita que a sepultura não deve ser deslocada e que Luiza Todi pode ser homenageada com eles através de um cenotáfio (mausoléu vazio) no cemitério de Nossa Senhora da Piedade. As devidas homenagens a esta grande cantora lírica portuguesa, não se ficaram só por ruas, avenidas e instituições, também na filatelia em selos dos CTT, na área da numismático foram editadas medalhas e a companhia aérea portuguesa TAP atribui em sua homenagem o seu nome a um avião o Airbus A320-214 CS-TMW  "Luísa Todi".


Luiza Todi  já com 58 anos regressa a Lisboa 
e passa a ter uma vida modesta (arq. pess.)


Travessa da Estrela actual Rua Luiza Todi no Bairro Alto em Lisboa, 
onde a cantora residiu ate à sua morte em 1833 
(arq. AML)


 Igreja de Nossa Senhora da Encarnação no Largo do Chiado, 
onde Luiza Todi foi sepultada em 1833,
 desenho da autoria de R. Christino, 
gravador Oliveira (arq. pess.)


Luiza Rosa Almeida de Aguiar Todi, uma setubalense que fez da sua vida uma referência
 quer a nível nacional e internacional (arq. pess.)


Aspecto geral da Avenida Luisa Todi em Setúbal, em meado dos anos 30 do séc. XX (arq. priv.)


Teatro Luíza Todi na cidade de Setúbal em 1945 (col.  Américo Ribeiro)


Cine-teatro Luisa Todi em 1960 actual Forum Luísa Todi em Setúbal (arq. priv.)


Monumento erigido a Luiza Todi, no centro da cidade de Setúbal 
em homenagens a esta grande cantora lírica portuguesa
(arq. priv.)



Casa onde terá nascido em 1753 Luiza Todi, na actualidade, 
futura Casa Museu Luísa Todi, Cantora Lírica (arq. priv.)


Lápide alusiva ao nascimento de Luiza Todi naquele local, 
colocada em 1953 pela Câmara Municipal de Setúbal 
(arq. priv.)


Selo dos CTT da série Músicos Portugueses 
em homenagem a Luiza Todi (col. pess.)




Medalha em bronze em homenagem a Luiza Todi, frente e verso
(col. pess.)



Alusão da companhia aérea portuguesa TAP atribui em sua homenagem o seu nome a um avião 
o Airbus A320-214 CS-TMW  Luísa Todi (arq. da Companhia aérea)


Avião da TAP, o Airbus A320-214 CS-TMW  "Luísa Todi" (arq. da companhia)





Texto: 

Paulo Nogueira



Fontes e bibliografia:

BASTOS, António de Sousa, Diccionario do Theatro Portuguez, Impr. Libanio da Silva, Lisboa, 1908

GONÇALVES, Joaquim Freitas, Luísa Todi Artista E "Santa" (1753-1833) - Notas E Conferências Sôbre Música E Músicos, Edição/Editor: 1ª/ Lopes da Silva, Porto, 1943

RIBEIRO, Mário de Sampayo, Luísa de Aguiar Todi : estudos diversos, Edição da revista Ocidente, Lisboa,1943

MOREAU, Mário, Cantores de Ópera Portugueses, vol. I, Livraria Bertrand, Lisboa, 1981

ELEUTÉRIO, Victor Luís, Luiza Todi, 1753-1833: A voz que vem de longe, Lisboa: Montepio Geral, Lisboa, 2003