quarta-feira, 10 de junho de 2015

EFEMÉRIDE:

                                
                               10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões
                                      e das Comunidades Portuguesas

                          

                                 



Comemora-se hoje dia 10 de Junho, o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, dia em que se assinala a morte de Luís Vaz de Camões em 1580, sendo também este o dia dedicado ao Santo Anjo da Guarda de Portugal, protector do País, é pois por isso este dia comemorado com um feriado nacional. 
Mas tudo começou, na sequência dos trabalhos legislativos após a Proclamação da República Portuguesa de 5 de outubro de 1910, foi publicado um decreto a 12 de outubro estipulando os feriados nacionais. Alguns feriados foram eliminados, particularmente os religiosos, de modo a diminuir a influência social da igreja católica e laicizar a sociedade perante o Estado. Esse decreto tinha a particularidade de permitir aos municípios e concelhos, escolher o dia para as suas festas tradicionais e municipais. Lisboa escolheu o dia 10 de Junho para feriado municipal em honra de Luís de Camões, uma vez que a data é apontada como sendo a da morte do poeta. Estranho e até bizarro comemorar a morte de alguém em vez do seu nascimento… Mas ainda assim porquê em honra de Luís de Camões? O poeta Luís Vaz de Camões (1524 - 1580), representava o génio da pátria na sua dimensão mais esplendorosa, significado que os republicanos atribuíam ao 10 de Junho, apesar de nos primeiros anos da República ser um feriado exclusivamente municipal. Com o 10 de Junho, os republicanos de Lisboa tentaram invocar a glória das comemorações camonianas de 1880, uma das primeiras manifestações das massas republicanas em plena monarquia. Ainda segundo algumas opiniões, os republicanos tentaram de certa forma esbater as comemorações das festas religiosas do dia de Santo António em Lisboa, do dia 13 de junho a favor do dia 10 de Junho.


                                                                  Retrato de Luís Vaz de Camões pintado em Goa, 1581 (col. priv.)





                                               Litografia de Cândido da Silva alusiva à revolução da noite de 3 de outubro de 1910,
                                                      em Lisboa que conduziu à proclamação da República Portuguesa (col. pess.)




                                                   Publicação alusiva ao Tricentenário de Luiz de Camões, de 10 de Junho de 1880
                                                                                                          (col. pess.)
                                                      

 
Comemorações do Tricentenário da morte de Camões, 
realizadas no dia 10 junho de 1880, 
pintura de Enrique Casanova 
(col. Museu de Lisboa)





O 10 de junho começou a ser particularmente exaltado no período do chamado Estado Novo,  regime instituído em Portugal a partir de 1933 sob a direcção de  António de Oliveira Salazar (1889 - 1970). Foi a partir desta época que o dia de Camões passou a ser festejado a nível nacional e continuou sendo o dia de Camões. A generalização dessas comemorações deveu-se bastante à cobertura dos meios de comunicação social. O regime apropriou-se de determinados heróis da República, não no sentido laico que os republicanos pretendiam, mas num sentido nacionalista  e de comemoração colectiva histórica e propagandista. Durante o período do Estado Novo de 1933 até à Revolução dos Cravos de 25 de Abril de 1974, era celebrado como o Dia de Camões, de Portugal e da Raça, este último epíteto criado por Salazar na inauguração do Estádio Nacional no Jamor em 1944.
Também se comemora na mesma data o dia do Santo Anjo de Portugal, porque e a pedido do rei D. Manuel I de Portugal (1469 - 1521), o Papa Júlio II instituiu em 1504 a festa do «Anjo Custódio do Reino» cujo culto já seria antigo em Portugal. O pedido terá sido feito ao Papa Leão X e este autorizou a sua realização no terceiro domingo de julho. A sua devoção quase desapareceu depois do século XVII, mas seria restaurada mais tarde, a partir de 1952, quando mandada inserir no Calendário Litúrgico português pelo Papa Pio XII, para comemorar o Dia de Portugal no 10 de Junho. No designado e controverso culto mariano, a Irmã Lúcia (1907-2005), nas suas Memórias, contou que, entre abril e outubro de 1916, nas ditas Aparições de Fátima, teria já aparecido um anjo aos três pastorinhos, por três vezes, duas na chamada “Loca do Cabeço”  e outra junto ao poço do quintal da casa dela, em Fátima (Ourém), convidando-os à oração e penitência, e afirmando ser o "Anjo de Portugal".


                                                    Capa de catálogo da cerimónia “do acto inaugural”
                                                                                            em 10 de Junho de 1944 (col. priv.)



                                  O Presidente do Conselho António de Oliveira Salazar e comitiva na inauguração
                                                                do Estádio Nacional no Jamor, em 10 de Junho de 1944 (arq. priv.)



     Inauguração do Estádio Nacional no Jamor em 10 de Junho de 1944, foto Estúdio de Horácio Novais (arq. priv.)





                                        Anjo Custódio com as armas de Portugal, de Olivier de Gand, Fernan Muñoz, c. 1510-1514
                                                                                                             (col. priv.)
                                       


 

A partir de 1963, o dia 10 de Junho tornou-se numa homenagem às Forças Armadas Portuguesas, numa exaltação da guerra e do poder colonial com desfiles militares em Lisboa dos três ramos das Forças Armadas no Terreiro do Paço e nas principais cidades das ex colónias portuguesas. Nesse evento eram atribuídas condecorações aos militares considerados heróis em combate na Guerra Colonial, assim como aos que nele morreram, aos familiares já a titulo póstumo. A revolução do dia 25 de Abril de 1974 traz consigo grandes transformações a Portugal, na mudança de regime e no contexto de ideologia política. Com uma filosofia totalmente diferente, a Terceira República  converteu o dia 10 de Junho no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas em 1978. Desde o ano 2013 a comunidade autónoma da Estremadura espanhola festeja também este dia. Estas comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, são celebradas por todo o País, mas só as comemorações oficiais são presididas pelo Presidente da República e muitas outras individualidades como o Primeiro Ministro, os Embaixadores e outras demais ilustres personalidades. As comemorações envolvem diversas cerimónias militares, exposições, concertos, cortejos e desfiles, além de uma cerimónia de condecorações feita pelo Presidente da República a figuras que de alguma forma se destacaram. Desde 1977 dezenas de cidades já receberam as comemorações, oito delas não capitais de distrito. Todos os anos, o Presidente da República Portuguesa elege uma cidade para ser sede das comemorações oficiais. Este ano de 2015 foi escolhida a cidade de Lamego para as comemorações oficiais deste dia 10 de Junho. Outras cidades serão escolhidas a cada ano, sempre com o mesmo sentido e a importância destas comemorações para Portugal e para os portugueses.


Parada militar em Lisboa no Terreiro do Paço nas comemorações do dia 10 de junho de 1963 
(arq. Nacional de Fotografia, Instituto Português de Museus)


Condecoração de oficial miliciano herói da Guerra Colonial nas comemorações do dia 10 de Junho de 1963 
em Lisboa no Terreiro do Paço (arq. priv.)



Mãe com a condecoração atribuída a titulo póstumo nas comemorações 
em Lisboa no Terreiro do Paço do dia 10 de Junho de 1964 
a seu filho que morreu em combate na Guerra Colonial 
(arq. priv.)




                                                   10 de Junho, dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas






                                       Comemorações do 10 de Junho de 2014 na cidade da Guarda (arq. priv.)














Texto:
Paulo Nogueira




Fontes e bibliografia:
Publicação on line com a perspectiva de Conceição Meireles, especialista em História Contemporânea de Portugal
SERRÃO, Joaquim Veríssimo, História de Portugal, vol. XII e vol. XV, Março de 2003, Editorial Verbo, Lisboa



 

2 comentários:

  1. Texto muito completo, de qualidade e com uma visão abrangente e relativamente bastante objectiva e isenta, do acontecimento focado.

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