sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

EFEMÉRIDES do dia 29 de janeiro


Dia Mundial dos leprosos.

Santo do dia, São Valério de Treviri (Século III - 29 de janeiro século IV d.C.). Valério, segundo algumas fontes e tradições, terá sido discípulo do apóstolo Pedro, que o teria consagrado bispo e enviado para evangelizar as populações da actual Alemanha. Mas historicamente esta informação é incerta. Há no entanto registos de que Valério foi bispo em Treviri e realizou um grande trabalho de evangelização. Valério terá convertido  multidões de pagãos e operou milagres singelos e expressivos. Talvez o mais significativo, tenha sido quando Valério  trouxe de volta a vida do companheiro Materno com o simples toque do seu bastão episcopal. As suas acções em favor da fé e da Igreja incluíram-no na lista dos santos e terá sido a primeiro a ser canonizado. A fama de sua santidade aumentou com a sua morte e os devotos procuravam a sua sepultura para agradecer ou pedir a sua intercessão. O culto se intensificou com a construção de muitas igrejas dedicadas a São Valério, principalmente entre os povos de língua germânica. Muitas cidades o elegeram como seu padroeiro. As suas relíquias estão conservadas numa urna de prata na basílica de São Matias, na cidade de Treviri, actualmente chamada de Trier, na Alemanha. É venerado pela igreja católica no dia da sua morte, 29 de janeiro.







Em Portugal

1505 - Morre frei Miguel Contreiras (Espanha, 29 de setembro de 1531 - Lisboa, Portugal, 29 de janeiro de 1505), aos 74 anos. Foi confessor da rainha D. Leonor e elemento determinante na fundação da Misericórdia de Lisboa. Miguel Contreiras terá chegado a Portugal com 56 anos e era hábito passear-se pelas ruas de Lisboa, sempre acompanhado por um anão e um burro, distribuindo esmolas aos pobres e aos doentes. A sua fama terá chegado aos ouvidos da rainha D. Leonor, que o nomeou seu confessor e mestre espiritual. A rainha D. Leonor em conjunto com Frei Miguel Contreiras, desenvolveu uma série de obras significativas de ajuda aos necessitados. Foi então em finais do século XV que, um grupo de "bons e fiéis cristãos", como reza a História, liderados por Frei Miguel Contreiras, na presença da rainha D. Leonor e das mais altas personalidades religiosas e civis, assumiu o compromisso de se dedicar à prática das 14 Obras de Misericórdia quanto fosse possível. No entanto é uma figura histórica, segundo muitos historiadores, considerada controversa e simbólica atendendo à veracidade da sua existência.
 


1825 - É fundada a Faculdade de Medicina do Porto, à época Real Escola de Cirurgia. Fundada pelo rei D. João VI e que funcionava em ligação com o Hospital da Misericórdia do Porto.



1838 - Sai o primeiro número de O Tempo, dirigido por José Estêvão.

1867 - O Governo de Joaquim António de Aguiar apresenta a proposta de reforma administrativa, que aumenta a centralização dos poderes.

1876 - Foi há 140 anos a primeira assembleia-geral da Sociedade de Geografia de Lisboa, depois da autorização real de 10 de novembro de 1875, para a criação. O conde de São Januário e Luciano Cordeiro assumem a direcção.

 
 
1894 - Manifestações das associações comerciais e industriais de Lisboa, contra a política fiscal do Governo de Hintze Ribeiro.

1945 - É fundado o jornal desportivo português A Bola, por Cândido de Oliveira.

1975 - Morre Manuel Fernandes Pinheiro Guimarães (Valmaior, Albergaria-a-Velha, Portugal, 19 de agosto de 1915 - Lisboa, Portugal, 29 de janeiro de 1975), aos 60 anos. Foi 
pintor, caricaturista, e realizador português que se destacou pela aplicação dos princípios ideológicos do neo-realismo na arte do cinema em Portugal. Manuel Guimarães depois de ter concluído o Curso Geral dos Liceus, seguiu o curso de pintura, em 1931, na Escola de Belas Artes do Porto. A partir de 1936 foi decorador teatral, ilustrador e caricaturista. Desde muito cedo, colaborou em revistas e jornais, nomeadamente no Repórter X e no Jornal de Notícias, como ilustrador e publicista. Também desenhador de cartazes de cinema, interessou-se pela arte cinematográfica. Aderiu ao ofício como assistente de vários realizadores de renome como Manoel de Oliveira, António Lopes Ribeiro, Jorge Brum do Canto, Arthur Duarte e Armando de Miranda. Com a curta-metragem "O Desterrado" (1949), recebeu o Prémio Paz dos Reis, atribuído pelo Secretariado Nacional da Informação (SNI) para as melhores curtas-metragens. Realizou em 1951 a sua primeira longa-metragem "Saltimbancos" e o filme "A Costureirinha da Sé" em 1958. No entanto, a ditadura do velho regime, atenta às manifestações da sétima arte, impediu-o com severidade de levar a bom termo os seus propósitos artísticos. A revolução do 25 de Abril de 1974 trouxe-lhe a esperança e Manuel Guimarães ainda iniciou a produção do seu novo filme "Cântico Final", que devido à sua morte, iria ser terminado pelo seu filho. Manuel Guimarães seria considerado por vários comentadores como injustiçado, e não só pelo velho regime. Da sua obra cinematográfica destaque ainda para os filmes  "O Crime da Aldeia Velha" (1964), "O Trigo e o Joio" (1965) e "Lotação Esgotada" (1972), ainda os documentários "As Corridas Internacionais do Porto" (1956), "Três documentários sobre temas de arte para a RTP" (1966), "Viagem do TER / Expressos Lisboa-Madrid" (1969), entre muitos outros de grande interesse. 



1978 - É fundada a UEDS, União de Esquerda para a Democracia Socialista.

1981 - O Governo português levanta as restrições às relações comerciais com o Irão, após a libertação dos reféns norte-americanos.

2004 - O actor e encenador Jorge Silva Melo recusa o Prémio Almada para teatro, atribuído pelo Instituto das Artes.




2005 - Um incêndio destrói grande parte dos arquivos do Liceu Camões, em Lisboa.

2006  - Vaga de frio provoca queda de neve em Lisboa, pela primeira vez em 52 anos.




2008 - O Tribunal de Oliveira de Azeméis condena sete elementos do "gang dos multibancos", responsável por dezenas de crimes, incluindo um homicídio. Os três condenados com penas mais elevadas – 20, 18 e 14 anos e seis meses – são dados como culpados do homicídio.

2008 - Pela primeira vez, as mulheres da GNR integram uma missão internacional em Timor-Leste.



2008 - A PT Multimédia anuncia a mudança do nome comercial para ZON, reforçando assim o seu posicionamento enquanto concorrente directa da Portugal Telecom.
 









No Mundo

904 - É eleito o papa Sérgio III, que vem a ser um dos papas do designado período das Idade das Trévas. Reivindicou e defendeu os direitos da Igreja contra os senhores feudais, numa época de constante violência conhecida como o século de ferro.

 

1715 - Nasce Georg Christoph Wagenseil (Viena, Áustria, 29 de janeiro de 1715 - Viena, Áustria, 1 de março de 1777). Virá a ser um compositor de estilo Barroco austríaco. Desde cedo Georg Christoph Wagenseil tornou-se o pupilo favorito de Johann Joseph Fux, Kapellmeister da corte de Viena.  Ocupou posições como instrumentista de Cravo e como Organista. Georg Christoph Wagenseil era uma figura muito conhecida no seu tempo, pois tanto Wolfgang Amadeus Mozart quanto Joseph Haydn tinham conhecimento e familiaridade com as suas composições. Os seus primeiros trabalhos possuem influência Barroca, enquanto as obras posteriores seguem uma tendência do estilo Galante. Georg Christoph Wagenseil compôs para a corte desde 1739 até à sua morte, tendo viajado muito pouco durante a sua vida e veio falecer em Viena, onde passou a maior parte do seu tempo. Georg Christoph Wagenseil compôs várias peças de óperas, corais, sinfonias, concertos, músicas de câmara e de instrumentos de tecla.

1801 - Ultimato franco-espanhol. França e Espanha exigem a Portugal o abandono da aliança inglesa e o fecho dos portos nacionais aos navios britânicos.

1820 - Morre o rei de Inglaterra Jorge III (Londres, Inglaterra, 4 de junho de 1738 - Windsor, Inglaterra, 29 de janeiro de 1820), aos 82 anos. Foi rei da Grã-Bertanha e Irlanda de 25 de outubro de 1760 até a união destes dois países em 1 de janeiro de 1800. 
Também foi duque e príncipe-eleitor do Eleitorado de Brunsvique-Luneburgo no Sacro Império Romano-Germânico até a sua coroação a Rei de Hanôver em 12 de outubro de 1814. Jorge cresceu como uma criança saudável, porém reservada e tímida. Foi o primeiro monarca inglês a estudar ciências sistematicamente. Além de química e física, os seus estudos incluíam astronomia, matemática, francês, latim, história, música, geografia, comércio, agricultura e direito constitucional, também incluindo dança, esgrima e equitação. A sua educação religiosa foi totalmente anglicana. Jorge ascendeu ao trono aos 22 anos de idade e reina desde 25 de outubro de 1760 a 29 de janeiro de 1820. Viajou muito pouco durante o seu reinado, passando toda a sua vida no sul da Inglaterra. Recebeu a alcunha de "Jorge Fazendeiro" por humoristas, pelo seu interesse em questões mundanas ao invés de políticas. Os primeiros anos do reinado de Jorge III foram marcados pela instabilidade política, em grande parte gerados como resultado de desentendimentos ao longo da guerra de sete anos. Foi durante o reinado de Jorge III que a Grã-Bretanha perdeu muitas das suas colónias na América do Norte, na sequência da Revolução Americana. Essas colónias eventualmente tornaram-se nos Estados Unidos. É também durante o seu reinado que os reinos da Grã-Bretanha e da Irlanda foram unidos para formar o Reino Unido.


 
1845 - É publicado pela primeira vez o poema "O Corvo" do escritor norte americano Edgar Allan Poe, no jornal New York Evening Mirror.
 
1861 -  O Kansas tornou-se o 34º estado norte americano e como um estado antiescravista.

1886 - Karl Benz põe em funcionamento há 130 anos o primeiro motor automóvel a gasolina e regista esta patente alemã com o número DRP 37435. 
O primeiro Motorwagen, como era designado, usou um motor de quatro tempos com um cilindro de 954 cc. Este novo motor fornecia ⅔ hp (½ kW) a 250 rpm na Patent-Motorwagen. O Benz Patent-Motorwagen era um automóvel de três rodas com um motor traseiro. O veículo continha muitas novas invenções. Foi construído com tubos de aço e painéis de madeira. As rodas de aço raiadas e pneus de borracha sólida foram projectos de Karl Benz. A direcção era por cremalheira que girava a roda da frente sem mecanismo de suspensão. Molas elípticas foram usadas na parte de trás juntamente com um eixo sólido e accionado por corrente dos dois lados.



1891 - Começa o consulado de 4 anos da rainha Liliuokalani do Haiti. Terminaria em 1895 com a anexação do arquipélago aos EUA.



1963 - Abre a segunda frente de guerra em Angola, no enclave de Cabinda.

1963 - A França veta a entrada do Reino Unido na CEE.

1963 - Morre Robert Frost (São Francisco, Califórnia, EUA, 26 de março de de 1874 - Boston, Massachusetts, EUA, 29 de janeiro de 1963), aos 88 anos. Foi um dos mais importantes poetas do Estados Unidos do século XX, tendo recebido quatro prémios Pulitzer. Em 1890, publica o seu primeiro poema, começa a dar aulas e realiza pequenos trabalhos em quintas e moinhos. A vida que levava nesse período moldou a sua personalidade poética, Robert Frost foi um dos poetas norte-americanos que melhor combinou nos seus versos o popular e o moderno, o local e o universal. A partir de 1906, quando começa a leccionar a tempo inteiro na Pinkerton Academy, a vida profissional de
Robert Frost não se dissociaria mais do ramo das letras. Começa a proferir palestras e conferências, actividade que não abandonaria até à sua morte. Entre 1912 e 1915 viveu na Inglaterra, país onde publicou os seus dois primeiros livros de poemas, "A Boy’s Will"(1913) e "North of Boston" (1914). Os livros foram bem recebidos pela crítica europeia, e Robert Frost é apresentado a poetas famosos, como Ezra Pound, Ford Madox Ford e W. B. Yeats. Em 1915 volta aos Estados Unidos, e no mesmo ano lança os seus dois primeiros livros. Entre as suas publicações de 1920 está o poema "Fire and Ice". Com a carreira literária cada vez mais sólida, recebe o prémio Pulitzer em duas ocasiões, em 1924, por New Hampshire, e em 1931, por Collected Poems. A produção literária de Robert Frost é variada e abundante. A sua poesia inclui sonetos, poemas em forma de diálogo, poemas curtos, poemas longos. Escreveu três peças teatrais ("A Way Out", "In an Art Factory" e "The Guardeen"). São numerosíssimos os registos das suas conferências.
 
 
 
1980 - O Senado norte-americano apoia o boicote aos Jogos Olímpicos de Moscovo.
 
1989 - A estação interpenetraria russa Phobos-Grunt entra na órbita do planeta Marte.



1992 - O dirigente russo Boris Ieltsine defende a eliminação de todas as armas de destruição maciça existentes no mundo.

1993 - O presidente dos EUA Bill Clinton anula a Lei que impede a entrada de homossexuais no exército norte-americano.

1996 - O presidente da França Jacques Chirac anuncia o fim dos testes nucleares franceses.



1996 - Incêndio do Gran Teatro La Fenice de Veneza. Este incêndio terá sido provocado por um electricista, Enrico Carella, na tentativa de evitar punições contratuais por um atraso no serviço que lhe havia sido encomendado. Uma série de factores acabaram contribuindo para o cenário de destruição, como o vento forte e o canal que dava acesso ao teatro que estava fechado para uma drenagem de limpeza.

1997 - O neto de Mahatma Gandhi lança ao rio Ganges as cinzas do estadista indiano, encontradas em 1996, no cofre de um banco.

2005 - Realizam-se os primeiros voos sem escalas entre China e Taiwan, em 55 anos.



2007 - O líder do PAIGC, Carlos Gomes Júnior, deixa a sede da ONU, em Bissau, onde estava refugiado desde 10 de janeiro.

2007 - O parlamento israelita aprova a nomeação de Ghaleb Majadleh para o cargo de ministro sem pasta, o primeiro árabe israelita muçulmano a integrar o governo de Telavive.








Texto:
Paulo Nogueira


 

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

UM PORTUGAL ESQUECIDO...


   Alentejo



"A distribuição de direitos da terra relaciona-se com a distribuição de poder, de rendimento, estatuto social e incentivos. Uma reforma agrária que muda esta distribuição é por definição uma mudança que afecta as raízes e não os ramos da sociedade."
Raup (1975)

Começamos por tentar mostrar através de factos reais, a partir de testemunhos, o que era a vida dos trabalhadores na região do Alentejo antes da designada Reforma Agrária, marcada a partir de 1975 em Portugal depois do golpe de estado do 25 de abril de 1974. Este tema não é um tema ainda hoje fácil de encarar por muita gente, pois a Reforma Agrária em Portugal não teve os efeitos desejados e até mesmo visíveis como podemos observar pela definição acima citada de Raup (1975).
 

    Paisagem alentejana por Dórdio Gomes (col. priv.)
 
 
    Postal ilustrado alusivo à apanha da azeitona como no Alentejo, no início do século XX (col. pess.)




Inicio de dia no Alentejo antes da Reforma Agrária

Aqui ficam de forma ainda que resumida, algumas memórias de um Portugal esquecido. Assim e até antes da Reforma Agrária, no Alentejo "enrregava-se" (entrava-se ao trabalho), ao nascer do sol mais frequentemente, tirando algumas excepções em que o nascer do dia representava o "largar" do trabalho. Geralmente ia-se a pé para o trabalho, em certos casos vinham tractores com reboques onde cada um levava cerca de 40 pessoas. Levavam uma "alcofa" com a comida para o almoço e uma panela de barro onde o aqueciam numa fogueira conjunta. Tinham uma hora de almoço, onde havia muita alegria, comia-se, cantava-se à "desgarrada", as mulheres mais velhas faziam renda, jogos como o da pedrinha, enquanto os homens iam aos pássaros com as suas fisgas. Os trabalhadores por hábito juntavam-se em grupos, tendo cada mulher uma amiga mais chegada, chamada a amiga da "panela". De seguida iam trabalhar até ao sol posto, depois iam para casa preparar as coisas para o dia seguinte e fazer a "lida" da casa.

Cada época do ano requeria culturas diferentes:
No verão tratava-se da cultura do arroz, trigo e mais tarde a do tomate; no inverno tratava-se da azeitona e da "desmoita" (tratar dos campos). Chegavam ao trabalho com a roupa já molhada começando a fazer dos sacos dos adubos capas para não se molharem.


No verão vinham grupos de mulheres do Algarve, chamadas de "as algarvias", para ajudar nas mondas do arroz. No inverno chegavam os grupos de mulheres do Norte, "as galegas" (mulheres que vinham do norte do pais), para trabalhar na azeitona e na desmoita. Estes grupos vindos de todo o país ficavam hospedados em montes e casões, chegando a casar com pessoas das terras para onde iam. Ao fim-de-semana, muitas pessoas iam trabalhar para os "cieiros" (pequenos proprietários), onde os trabalhadores poderiam impor as suas condições, tendo os "cieiros" menos possibilidades, acabavam por pagar um ordenado mais elevado do que os patrões da semana. As filhas dos "cieiros" trabalhavam na altura do verão que era quando o ordenado era maior. No verão durante doze semanas ganhava-se vinte escudos (0,10€), no inverno ganhava-se oito escudos (0,04€). Na cultura do trigo era mais comum encontrar-se as mulheres e o seu "capataz". Na época da azeitona era quando homens e mulheres trabalhavam juntos e se iniciavam a maioria dos namoros, fazendo os homens versos do cimo das oliveiras para as suas amadas. Havia uma distinção entre homens e mulheres, de onde os homens saiam favorecidos, visto que ficavam com o trabalho mais pesado. Os ordenados eram diferenciados; os rapazes só quando iam para a tropa é que começavam a ganhar o ordenado como um homem, já as mulheres tinham que encher um barril de água e conseguir transporta-lo à cabeça para começarem a ganhar o ordenado.



As festas

Era muito comum haver festas e bailes, todos os fim-de-semana havia bailes com as "algarvias". Depois de uma época de trabalho terminar os patrões ofereciam as "adiafas" (festas com comida e bebida). Em alturas de festas na aldeia, era chegar do trabalho, ir para o baile, depois do baile era trocar de vestimenta para ir lavar a roupa da semana a uma ribeira. Tempos difíceis e de trabalho árduo mas ainda assim com tempo para o convívio e tradições.


                                          Trabalhadoras no Alentejo chegando ao trabalho na década de 1950 (arq. priv.)



    Chegada dos trabalhadores numa herdade do Alentejo para mais um dia de trabalho já nos anos 70 (arq. priv.)




                                  Trabalhadores na monda do arroz no Alentejo no início dos anos 70 (col. pess.)


 Trabalhadores das limpezas das terras no Alentejo no inicio dos anos 70 (arq. priv.)
                   

Preparação do almoço no Alentejo após o trabalho no campo nos anos 70 (arq. priv.) 



Apanha de azeitona com toda a família em São Cristóvão, Montemor-o-Novo
no início dos anos 70 (arq. Rafael Direitinho)



                                        Monda do arroz em Alcácer do Sal , Alentejo no início dos anos 70 (arq. priv.)


Trabalhadores agrícolas no Alentejo em meados dos anos 60 na tradição
que se manteve até à Reforma Agrária (arq. priv.)



Traje típico de trabalhadora agrícola no início dos anos 70 (arq. priv.)



Trabalhadores num monte alentejano numa pausa de descanso durante o trabalho
em finais dos dos anos 60 (col. pess.)



 Casamento no Alentejo nos anos 60 (arq. priv.)



Família alentejana reunida nos finais dos anos 60 (arq. priv.)



Festa na após semana de trabalho numa herdade no Alentejo, início dos anos 70 (arq. priv.)



Grupo amador de teatro composto por os trabalhadores agrícolas do Alentejo no início dos anos 70 (arq. priv.)


Elementos de teatro amador composto por trabalhadores
agrícolas do Alentejo no início dos anos 70 (arq. priv.)



Fatos domingueiros e vestido de noiva usados no Alentejo ainda no início dos anos 70 (col. priv.)



Trajes típicos de trabalhadores agrícolas do Alentejo usados ainda no início dos anos 70 (col. priv.)




A agricultura depois da Reforma Agrária

Poderá parecer discutível, mas em alguns casos o povo português oprimido, depois de incitado e iludido por uma revolta desta natureza, como foi a do dia 25 de abril de 1974, no próprio dia da revolta e nos que se seguiram, quer em Lisboa quer em outras partes do país, como foi o caso do Alentejo, cometeu grandes exageros no que respeita à liberdade, tomando de assalto, de forma indevida, bens e propriedades de alguns privados.
Entre março e novembro de 1975 mais de 1 milhão de hectares de terras no Alentejo foram ocupadas e são formadas cerca de 500 propriedades colectivas dirigidas por trabalhadores rurais. Nasciam as famosas UCP's, (Unidades Colectivas de Produção). Este movimento da Reforma Agrária com apoios estatais, de sindicatos e partidos políticos, avança apoiando-se basicamente nos trabalhadores rurais eventuais, anteriormente mais desfavorecidos, o que leva, no contexto de mudança em que Portugal se encontrava, a novas condições político-económicas das populações do sul. Aumentam as áreas de cultivo, aumentando também a produção, de acordo com a lógica das UCP's o emprego com salários justos, para além do trabalho assegurado e da igualdade entre os trabalhadores: um acesso igual à terra e aos seus rendimentos para todos os que dela dependem. No entanto o futuro e a própria evolução política e económica do país revelou-se um pouco desajustada das intenções da Reforma Agrária, fazendo cair por vezes os seus objectivos principais. Os conflitos entre membros das UCP's, os seareiros e pequenos rendeiros são frequentes; são fracos ou mesmo nulos os conhecimentos de gestão agrária e financeira dos trabalhadores dessas unidades colectivas; há toda uma marginalização cada vez maior dos pequenos e médios proprietários não aderentes à Reforma Agrária, descontentes com a distribuição de desempregados pelas suas propriedades, aumentando-lhes os encargos, os trabalhadores especializados e mais qualificados das cooperativas de produção, devido à igualdade imposta no seu funcionamento acabam por se afastar. Todos estes factores desencadeiam uma deriva crescente das UCP's e o quebrar de relações sociais e laborais na população rural. As alterações políticas no final da década de 70 precipitam uma morte anunciada e o fim das UCP's, tal era o seu descrédito e falta de apoio político e de confiança popular. Com as dificuldades económicas, menor área de exploração e menos postos de trabalho, a maior parte das unidades entra em processo de falência. Com tudo isto o trabalho no campo acaba, as pessoas começaram a emigrar, começando os campos, montes e alfaias a ficar ao abandono. Apareceu a maquinaria, o que fez diminuir o número de trabalhadores nas terras que ainda foram sendo cultivadas, os trabalhadores que restaram puderam expor os seus direitos e as suas vontades, deixando de vir trabalhadores dos vários pontos do país e com isso, todo aquele convívio do passado começou a diminuir até aos dias de hoje. As antigas tradições e hábitos acabaram, mudando radicalmente a vida das populações do Alentejo, tudo passou a fazer parte de um Portugal esquecido. Ficam apenas as recordações dos mais velhos e a saudade daquele convívio quase familiar, mesmo em tempos difíceis.
Com o fim da Reforma Agrária e o latifúndio restaurado, traz ao Alentejo as terras abandonadas, a desertificação e o desemprego, enquanto umas poucas centenas de grandes agrários recebem milhões de euros sem que lhes seja exigida a produção seja do que for. Foi a realidade constatada. A Reforma Agrária acabou por ser destruída, mas não pôs fim à necessidade de nas actuais circunstâncias, se concretizar uma Reforma Agrária noutros moldes.



Cartazes alusivos à Reforma Agrária no Alentejo
(col. priv.)
 
 
                                                                           Filme que aborda o processo da Reforma Agrária no 
                                                                            Alentejo, durante o PREC, cooperativa Grupo Zero



                                            Manifestação de trabalhadores no Alentejo no início da Reforma Agrária (arq. priv.)



Populações no Alentejo numa forma de manifestação durante a Reforma Agrária (arq. priv.)



                                      Trabalhadoras agrícolas alentejanas no período da Reforma Agrária (arq. priv.)



                                                             Trabalhadores operando na debulhadora após o 25 de Abril de 1974
                                                                                   no período da Reforma Agrária (arq. priv.)



Transporte dos trabalhadores em tractor no Alentejo durante o período da Reforma Agrária (arq. priv.)
                        



     Apanha e transporte do tomate no Alentejo durante o período da Reforma Agrária (arq. priv.)



Trabalhadores rurais do Alentejo reivindicando direitos em 1975 no período da Reforma Agrária (arq. priv.)



                                        Pintura mural alusiva à Reforma Agrária no Alentejo em 1975 (arq. priv.)



 Ambiente de trabalho na UCP Soldado Luís no Alentejo em 1978 (arq. priv.)



Barragem do Pego do Altar no Alentejo, construída durante o Estado Novo (foto Rafael Direitinho)



Antiga cooperativa (UCP) de Campo Maior ao abandono nos dias de hoje (arq. priv.) 


    Máquina agrícola Tramagal ao abandono depois da Reforma Agrária (foto Alexandre Filipe Nobre)



                                                     Monte alentejano abandonado nos dias de hoje (arq. priv.)



Edifícios numa herdade na zona de Évora na actualidade (foto Rafael Direitinho)
                              


                                            Aspecto de campo de uma herdade no Alentejo nos dias de hoje (foto Rafael Direitinho)
                             


                           Aspecto de campo de uma herdade moderna no Alentejo nos dias de hoje (foto Rafael Direitinho)




Aspectos de modernas explorações agrícolas no Alentejo (arq. priv.)



Exploração agrícola com gado pastorício no Alentejo nos dias de hoje (foto Rafael Direitinho)



Pôr do sol numa exploração agrícola com gado pastorício no Alentejo nos dias de hoje (foto Rafael Direitinho)







Texto:
Rafael Direitinho e Paulo Nogueira

 
Fontes e bibliografia:
Raup, P. M. (1975), "Land reform issues in development", Staff Paper P75-27, Department of Agricultural and Applied Economics, University of Minnesotta, St. Paul.
Publicação on-line O Melhor Alentejo do Mundo
Documentários à Esquerda, 420Doc
Trabalho baseado em testemunhos recolhidos junto das populações de Santa Susana em Alcácer do Sal.