domingo, 1 de abril de 2018

COELHINHO DA PÁSCOA





A figura do coelhinho da Páscoa é um dos símbolos desta época festiva mais queridos pelos mais novos e não só. A tradição do famoso coelhinho de Páscoa, surge a par com as celebrações vindas, segundo se julga, do antigo Egipto, onde o coelho simbolizava o nascimento e a nova vida. Alguns povos da Antiguidade consideravam o coelho como o símbolo da Lua, portanto, é possível que ele se tenha tornado num símbolo pascal devido ao facto de a Lua determinar a data da Páscoa. Entre os povos da Antiguidade, a fertilidade era sinónimo de preservação da espécie e melhores condições de vida, numa época onde o índice de mortalidade era altíssimo. O certo é que os coelhos são notáveis pela sua capacidade de reprodução e fertilidade, e geram grandes ninhadas, o que esta associado ao nascimento e à vida, a Páscoa marca a ressurreição de Jesus, vida nova, tanto entre os judeus quanto entre os cristãos. Por isso, tudo leva a crer que a escolha do coelho como símbolo para comemorar a Páscoa é devido à sua grande capacidade conhecida de procriação, de grande valor simbólico numa festa também dedicada à Primavera (no Hemisfério Norte) e à fertilidade da terra. O primeiro dia da Primavera, que ocorre em 21 de setembro no Hemisfério Sul e 21 de março no Hemisfério Norte e as festividades que se celebram, o equinócio de Primavera. As origens da celebrações da Páscoa têm forte relação com o pagão. O início da Primavera marca a volta do Sol e a época do ano em que dia e noite têm a mesma duração depois do inverno. Para os nórdicos da Antiguidade, à adoração da deusa EostreÉostre, Ostara, Jair ou Ostera, a deusa da fertilidade, amor e do renascimento, era o despertar da Terra com sentimentos de equilíbrio e renovação. Ostara, a deusa da Primavera, da ressurreição e do renascimento, tem como símbolo o coelho. Pode ser encontrada também como a deusa da Pureza, da Juventude e da Beleza. Originalmente esta festa servia apenas para homenagear a Deusa Teutônica.


Hieróglifo representação de coelho em baixo relevo egípcio, como símbolo do nascimento e a nova vida
(Templo d'Edfou, Egito)
 


Representação de coelho em baixo relevo de hieróglifos egípcios (col. priv.)



Deusa da mitologia da fertilidade Ostara ou Eostre
por Johannes Gehrts em 1884 (col. pess.)



Representação do coelho sob a luar em pintura japonesa por Utagawa Hiroshige (col. priv.)




Imagem da deusa Ostara, deusa da Primavera representada
com o simbólico coelho (col. priv.)




Na Alemanha, o coelho era o símbolo de uma deusa adorada pelos germânicos e anglo-saxões, Isthar ou Ostara (que deu origem a palavra Ostern: Páscoa, em alemão e Easter, em inglês), em cujas ilustrações sempre apareciam as lebres, os seus animais preferidos e em sua honra celebrava-se uma festa durante o mês de abril. Ostara é uma deusa anglo-saxã teutônica da mitologia nórdica e germânica, o seu nome significa a deusa da Aurora, conhecida também como Eostre, Ostera ou Easter, cujo significado é Páscoa. Uma das principais tradições desse festival era a decoração de ovos que representa a fertilidade da deusa. Lendas encontradas dão conta de que a deusa Ostara tinha uma especial afeição por crianças, porque onde quer que ela fosse, elas a seguiam e ela adorava cantar e entretê-las com sua magia. Conta a lenda que um dia, Ostara estava num jardim com as crianças, quando um pássaro voou sobre elas e pousou na mão da deusa. Ao dizer algumas palavras mágicas, o pássaro transformou-se no animal favorito de Ostara, um coelho. O que, maravilhou as crianças. Com o passar dos dias, as crianças repararam que o coelho ficara triste com a transformação, pois não mais podia cantar e nem voar. As crianças pediram a deusa que revertesse o encanto. Ela tentou de tudo, mas não conseguiu desfazer o encantamento. A magia estava feita e poderia ser revertida. A deusa decidiu esperar pelo fim do inverno, pois nesta época do ano o seu poder diminuía. O coelho assim permaneceu até a chegada da Primavera. Com os poderes no apogeu, a deusa Ostara pode transformar reverter a magia e coelho transformou-se novamente em pássaro, durante algum tempo. Agradecido, o pássaro pôs alguns ovos em sua homenagem. Em celebração à sua liberdade e às crianças, que tinham pedido a deusa para que ele retornasse a sua forma original, o pássaro, pintou os ovos e distribuiu-os pelo mundo. Para lembrar às pessoas de que não podem interferir no livre-arbítrio de alguém a deusa Ostara entalhou a figura de uma lebre na Lua, que pode ser vista até hoje por nós. O coelho da Páscoa era considerado ainda como que um ‘juiz’ que decidia se as crianças mereciam os ovos da Páscoa ou não – consoante o seu comportamento ao longo do ano. Ou seja, a sua função era semelhante à do Pai Natal. Outra tradição muito antiga é a de esconder os ovos e depois achá-los. Conta esta lenda que uma mulher pobre coloriu alguns ovos de galinha e escondeu-os, para dá-los aos seus filhos como presente de Páscoa. Quando as crianças descobriram os ovos, um coelho passou a correr. Espalhou-se, então, a história de que o coelho é que havia trazido os ovos. Desde então as crianças sempre acreditaram no coelhinho da Páscoa, a história que seus pais lhes contavam. O coelhinho da Páscoa é uma das principais atracções entre as crianças na Páscoa. No século VIII, os anglo-saxões transferiram o nome de Easter também à festa cristã que celebra a Ressurreição de Jesus, adaptando o nome da festa pagã às tradições cristãs. Tudo uma vez mais formas de integrar este símbolo pagão, associado a este período do ano, à religião católica e às suas celebrações pascais, que simbolizam o renascer de uma vida nova. Na Alemanha a primeira referência ao coelhinho da Páscoa é feita em 1682, num livro sobre os tradicionais e simbólicos ovos da Páscoa. A figura do coelho da Páscoa foi trazida para a América pelos imigrantes alemães, entre o final do século XVII e início do XVIII passando a fazer parte integrante das comemorações pascais. A partir do século XIX na Alemanha, é iniciada a produção de figuras representando lebres ou coelhinhos em açúcar e chocolate, para comemorar as festividades da Páscoa, porque começou a circular entre a população uma lenda de que um coelho foi preso junto ao túmulo de Jesus e presenciou a sua Ressurreição. Tendo testemunhado o milagre dizia-se, então, que foi o animal escolhido como o mensageiro para comunicar e lembrar às crianças a boa notícia, distribuindo ovos pintados (de lembrar que a origem de se esconder ovos na Páscoa também foi adaptado e associado ao calvário sofrido por Jesus).


Deusa Ostara ou Eostre representada com os coelhos e a Lua
associados à lenda e o equinócio da Primavera (col. priv.)

 

Deusa Easter em postal ilustrado de Páscoa
do final do séc. XIX (col. pess.)



Tradição da caça aos ovos associada à história do coelho da Páscoa,
numa gravura de 1889 (col. pess.)


Postal ilustrado inglês de Páscoa do final do séc. XIX
 alusivo à lebree à oferenda de ovos coloridos 
(col. pess.)



Postal ilustrado de Páscoa inglês do final do séc. XIX com as lebres
alusivo ao nascimento e à renovação (col. pess.)


Postal ilustrado inglês de Páscoa de meados do séc. XIX
com a alusão à lebre distribuindo ovos coloridos
 (col. priv.)


Postal ilustrado de Páscoa francês do final do séc. XIX
com alusão à lebres e aos ovos coloridos (col. pess.)


Postal ilustrado inglês de Páscoa de 1915 alusivo às lebres da Páscoa
(col. priv.)



Moldes para a produção de lebres ou coelhinhos da Páscoa em açúcar e chocolate
na Alemanha de finais do séc. XIX (arq. priv.)
 

Enchimento de moldes para a produção de lebres ou coelhinhos da Páscoa em açúcar
como no séc. XIX na Alemanha (arq. priv.)
 

Desenformagem dos moldes de figuras de lebres ou coelhos da Páscoa de produção
alemã como no séc. XIX (arq. priv,)


Figuras de lebres ou coelhinhos da Páscoa em açúcar e chocolate de produção alemã,
idênticos aos do final do séc. XIX (arq. priv.)



Com a industrialização os coelhinhos da Páscoa passam a ser produzidos a partir do século XX pelos grandes fabricantes chocolateiros de quase todo o mundo. Surgido coelhinhos de todas as formas, tamanhos e decorações. Existindo o famoso Golden Bunny, criado pela marca de chocolates suíça Lindt. Embora a tradições do coelhinho da Páscoa, assim como outros, de origem pagã, tenham tido mais renitência em ser adoptadas aos hábitos e tradições pascais portuguesas fortemente católicos, aos poucos acabou por ser adoptado e adaptar-se, fazendo hoje parte integrante das tradições e comemorações. Esta tradição do coelhinho da Páscoa, acabou por chegar a Portugal e entrar nos hábitos da Páscoa das classes mais ricas, nomeadamente a partir do início do século XX, na actualidade generalizou-se. Em Portugal são muitas as fabricas nacionais de chocolates que todos os anos por esta altura produzem os famosos coelhinhos da Páscoa, igualmente com decorações diversas. Mesmo na pastelaria são produzidas figuras representando o coelhinho da Páscoa. Este símbolo encanta neste período pascal crianças especialmente e adultos, estando presente nas decorações e nas oferendas tradicionais deste período. Em suma, o coelhinho da Páscoa simboliza o nascimento e uma vida nova, tal como a Ressurreição de Jesus, que renasça a cada dia também uma vida nova, a esperança, a paz e a união dos homens por todo o Mundo.

Coelhinhos da Páscoa de formas, tamanhos e estilos diferentes (arq. priv.)



Coelhinho ovo da Páscoa em chocolate (arq. priv.)



Família dos famosos coelhinhos da Páscoa Golden Bunny da fábrica suíça Lindt (foto do fabricante)
 
 
 
Coelhinho da Páscoa em chocolate da fábrica portuguesa Avianense
(foto do fabricante)



Enchimento de molde na produção de coelhinhos da Páscoa em chocolate
na fábrica portuguesa de chocolates Arcádia (arq. priv.)



Coelhinhos da Páscoa em chocolate de dois tons (arq. priv.)
 
  
 
Coelhinhos da Páscoa em massapão dentro de ovos de chocolate (arq. priv.)
 
 
 
Figuras representando o coelhinho da Páscoa na arte da pastelaria
(arq. priv.)



Coelhinho da Páscoa em chocolate numa decoração de mesa pascal
(arq. priv.)


Coelhinhos da Páscoa em peluche em ovo de chocolate surpresa (arq. priv.)
 


Figuras de coelhos em porcelana em decoração pascal (foto A.D.)




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                                                                                                                                         (foto Paulo Nogueira)







Texto:
Paulo Nogueira



Texto e bibliografia:
BILLSON, Charles J. (1892). "The Easter Hare", Vol. III, No. 4 , Taylor & Francis, Ltd., 1892
LOPES, J.A Dias, Revista "Gosto" Nº 8, pg. 84, março 2010 
PRIETO, Claudiney, Wicca – A Religião da Deusa, Editora Alfabeto, São Paulo, 2012
PRIETO, Claudiney, Todas as Deusas do Mundo, Editora Alfabeto, São Paulo, 2017



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